segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Uma das questões prioritárias

Entre défices e dívidas, pouco se fala do que será, porventura, o maior défice que germina lentamente: o de natalidade. Dele resultará um dos maiores problemas que legaremos aos vindouros: a insustentabilidade do actual modelo social público. Pelo menos, com razoabilidade de custos e equidade.

Foram agora conhecidos números que, em condições desejáveis, teriam levantado reflexões e propostas. Refiro-me aos dados mundiais sobre a taxa de fecundidade da mulher. Portugal ocupa a penúltima posição: 1,3 filhos por mulher. Em todo o mundo, pior só a Bósnia! Um valor igual a 62% do necessário para o equilíbrio geracional (2,1 filhos). Um índice que, há 40 anos, chegava aos 3 filhos.

Esta vertigem só tem sido atenuada pela notável evolução da mortalidade infantil que não chega agora às 3 crianças por mil (no 1º ano de vida), quando há 40 anos atingia 55 nado-vivos!

Se ao défice de natalidade (nascem 100.000 crianças quando precisaríamos, no mínimo, de 160.000), juntarmos o progresso assinalável da esperança de vida, constatamos o rápido envelhecimento da população: em 1970 havia 34 pessoas com mais de 65 anos de idade por cada 100 crianças e jovens. Agora aproximamo-nos de 120 velhos por cada 100 crianças! As escolas fecham e os lares não chegam. O Estado Social só sobreviverá com uma primavera demográfica. Reduzir abonos, agravar custos de saúde infantil, eliminar deduções fiscais de educação é um sinal errado.

Há países com uma boa evolução em resultado de políticas públicas de apoio à natalidade: a Holanda e os países nórdicos, além da Irlanda que é o único país da UE que repõe as gerações. Nós por cá andamos mais entretidos com a espuma do dia e a promoção de políticas anti-natalistas.

Entretanto, a ameaça avança. Silenciosamente.

Bagão Félix
negócios-online, 2 Novembro 2011

Sem comentários: