segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Outro Ponto de Vista

Acácio de Brito
in Diário do Minho, 18/10/2011

 “Se quisermos preservar uma sociedade livre, é essencial que reconheçamos que o facto de um determinado objectivo ser desejável não constitui justificação suficiente para se usar de coerção.”
Friedrich Hayek

Uma declaração prévia de interesses: sou quadro da administração pública, funcionário público, com um vínculo contratual de nomeação.
Tenho uma opinião que sujeito a escrutínio e sou apoiante desta maioria de governo.
Não obstante, a propósito dos disparates que por aí pululam, nomeadamente com os considerandos sobre as características do emprego público e da sua pretensa duração “para
sempre”, a propósito da introdução disparatada de um imposto direccionado apenas a alguns, diga-se, em abono da verdade, que só tem esta opinião quem é manifestamente ignorante ou, pior, pratica uma desonestidade intelectual.
A maioria dos funcionários públicos tem um estatuto contratual de contrato individual de trabalho de funções públicas, ou de tempo incerto ou determinado. Logo, pode ser dispensado, vulgo, objecto de despedimento previsto na Lei.
Aliás, o actual ministro das Finanças, a fazer fé no que disse, só não promove o despedimento de cerca de 50 a 100 mil funcionários públicos porque é mais barato, segundo o próprio, a adopção deste imposto, vulgo confisco dirigido.
As excepções aos contratos para funções públicas, as consideradas nomeações, são apenas para os servidores de serviços com determinadas especificidades, mormente, as forças de segurança, os magistrados, diplomatas e inspectores.
Vem isto a propósito de se ouvir dizer que os funcionários públicos gozam da prerrogativa de emprego para a vida, contrariamente aos do mundo privado. Não é de todo verdade, como as palavras de Vítor Gaspar, obviamente confirmam.
Os professores, muitos deles com uma precariedade contratual assinalável, alguns com muitos anos de docência, encontram-se no desemprego. E a tendência é para piorar. Contratos de curta duração, só enquanto são necessários ao sistema. Os técnicos da área de saúde com vínculos laborais a roçar o limite da legalidade, e os técnicos da área social, sem perspectiva de carreira, e aposentados/pensionistas sem qualquer poder reivindicativo, encontram-se na mesma situação.
Estes três exemplos das áreas consideradas com maior custo agregado nas despesas públicas, (educação, saúde e segurança social) com as remunerações, ilustram que, afinal, a diferença entre o público e o privado reside em que num dos sectores, a função pública, são alteradas as condições previstas de remuneração de forma arbitrária, em contraponto com o privado, que tem de ser objecto de acordo em sede da concertação social.
Temos de perceber que o novo paradigma/modelo legislativo, nomeadamente a Lei n.o 59/2008, de 11 de Setembro, implicou, per se, o início de um processo de laboralização do emprego público, nomeadamente com a aplicação de um novo contrato de trabalho e a passagem de uma visão estática do emprego público, de outrora, para uma jurisprivatização do direito laboral, que pode ser ilustrada no binómio expulsão versus despedimento, e tem enquadramento instrumental no Estatuto Disciplinar.
Estes considerandos encontram substantividade na recente intenção prevista na proposta da Lei de orçamento do “confisco” de dois meses de remuneração/subsídios de Natal e de Férias, apenas dos funcionários públicos, o que já mereceu, até por parte do Senhor Presidente da República, manifesta discordância.
E esse desacordo público pode ser entendido como alerta para o facto de se estar a dar importância ao fácil e acessório – corte nas remunerações/subsídios – esquecendo o importante – a reforma dos serviços que ao Estado deve competir fazer.
Sem essa reforma estruturante do Estado, estes “estupros fiscais” ou “confiscos” brutais são paliativos. Entretanto, todos sabemos que não mais haverá lugar a qualquer tipo de recuperação do que agora é, indevidamente, retirado.
Os assuntos de Estado são demasiado sérios e importantes para estar nas mãos de “guarda-livros”, mesmo encartados, ou de “troca-tintas”.
Com efeito, eles tratam e afectam as nossas vidas de pessoas, irrepetíveis e únicas.

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

"Portugal está no bom caminho".

Chefe do fundo de resgate europeu, Klaus Regling, elogia Portugal pela forma como tem conduzido o seu programa de reajustamento económico e financeiro.

O chefe do fundo de resgate europeu, Klaus Regling, elogiou hoje Portugal pela forma como tem conduzido o seu programa de reajustamento económico e financeiro, afirmando que o país "está no bom caminho".

"Portugal está a caminho de se tornar uma história de sucesso", disse Klaus Regling numa conferência de imprensa em Pequim. As autoridades portuguesas "estão a alcançar os objetivos" e "estão no bom caminho", acrescentou.

Klaus Regling falou de Portugal depois de ter evocado o "sucesso" obtido pela Irlanda, outro país da zona euro que recorreu à ajuda financeira externa.

"A Irlanda é uma historia de sucesso, o que é também reconhecido pelos mercados", disse Regling, salientando que nos últimos quatro meses, os juros dos títulos da dívida soberana irlandesa a 10 anos "desceram de 14 por cento para 8,5 por cento".

O chefe-executivo do Fundo Europeu de Estabilidade Financeira (FEEF) destacou ainda que a Irlanda conseguiu "melhorar a competitividade" e "baixar o deficite".

"Portugal começou seis meses mais tarde do que a Irlanda (o programa de reajustamento) mas está também no bom caminho", afirmou. Sobre a reestruturação da divida grega, Regling disse que se trata de "tratamento excecional" e que "não será repetido noutros países".

"Os outros países não terão necessidade (desse tratamento)", acrescentou O Fundo Europeu de Estabilidade Financeira foi criado em maio de 2010, com uma dotação de inicial de 240.000 milhões de euros.

"Os 17 países da zona euro são os acionistas do Fundo e proporcionam as garantias para a emissão de títulos", recordou.

Klaus Regling chegou a Pequim hoje de manhã (hora de Lisboa) para contactos com responsáveis do ministério chinês das Finanças e do Banco Central da China.

Quarenta por cento dos títulos emitidos este ano pelo FEEF foram comprados por investidores asiáticos, entre os quais chineses, indicou Regling, sem precisar os montantes.

A visita ocorre dois dias depois da última cimeira da zona euro, que decidiu aumentar a capacidade do FEEF para cerca de um bilião de euros.



Ler mais: http://aeiou.expresso.pt/portugal-esta-no-bom-caminho=f683937#ixzz1c4ah0E7K

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Tintin é de Todos

Há que tempos que os fãs do mais famoso repórter do mundo andam num nervoso miudinho. Tudo porque dois não europeus (pior: um americano e um neo-zelandês) ousavam penetrar no território sagrado de Hergé. Ainda por cima adulteravam com a terceira dimensão o país plano de Jacques Brel. E corrompiam a limpeza, a elegância e o apuramento do traço, ou humor, a qualidade e a imaginação das histórias, dos gags, do ritmo narrativo criados por um dos mais referenciais autores de BD com a motion capture, a técnica que mistura imagem real e CGI (computer generated imagery), utilizada recentemente por James Cameron, em Avatar, seguindo o caminho trilhado por Peter Jackson (Senhor dos Anéis, King Kong). Mas a verdade é que não se imagina melhores câmaras, melhores técnicas, melhores mentes e melhores mãos a que pudesse ser entregue esta missão quase impossível. Peter Jackson, produtor e futuro realizador da eventual sequela, cresceu a ler o Tintin - este repórter globetrotter é transversal a geografias e a gerações, as suas aventuras são traduzidas em 80 idiomas, com mais de 350 milhões de cópias vendidas. . .

E Spielberg tornou-se um ávido leitor, nos anos 80, depois muita gente ter associado o seu indiana Jones a Tintin - aliás, adquiriu os direitos logo em 83, com a concordância e o agrado do próprio Hergé.

De facto, Tintin é um Indiana Jones sem mochila, sem chicote, sem suor nem barba por fazer - e, neste filme, o já lendário compositor John Williams encarrega-se de o sublinhar. Nem um rasgo de mau feitio, cobiça ou mínima centelha amorosa se lhe atravessa no caminho. E é dramática e cinematograficamente difícil sustentar um herói tão imberbe, tão angelical, sem back-ground familiar, sem passado, sem rugas nem dirty secrets a macular a sua perfeição. Ele é quase uma abstracção, uma espécie de incorporação da neutralidade (em francês Tintin quer dizer Rien du tout). Por isso a motion capture é a técnica que melhor lhe serve, num meio termo entre o realismo e animação, que tornam os actores - seres digitalmente modificados - irreconhecíveis, sendo-lhes, contudo, captáveis as milhares de nuances e expressões faciais e corporais. Muito longe, portanto, do triste destino e que condenou ao ridículo o magistral Goscinny, quando a saga Astérix foi lamentavelmente vertida nas telas.

O filme baseia-se nos álbuns sequenciais Segredo de Licorne e O Tesouro de Rackham, o Terrível, que não são de todos os mais sofisticados, mas faz sentido, se pensarmos que este pode ser o início de uma triologia (se tudo correr bem na bilheteiras, já na América é uma incógnita): aqui Tintin cruza-se pela primeira vez com o seu contraponto de vícios, o capitão Haddock e a sua prolixidade de insultos e com o mítico castelo de Moulinsart. Há um excerto de O caranguejo e Tenazes de Ouro, à mistura, e intrometem-se o barco Karaboujan e a travessia do Saara. Rackan é o vilão do filme, mas falta-lhe carisma, daí nem ter sido retomado em aventuras seguintes, ao contrário do incorrigível Rastapopoulos. E esta pode ser uma falha do filme. Se o herói é atípico e dificílimo de assimilar numa lógica de estereótipo por uma lógica cinéfila mas iletrada nos álbuns de BD, teria de se compensar com um vilão mais terrível. Faltam também os irmãos Pardal, mas em contrapartida introduz-se os gémeos mais redundantes do mundo Dupond e Dupont, Allan, o mordomo Nestor e Castafiore - que não satisfaz o potencial humorístico, mas cumpre a quota feminina. Diz-se que o português Oliveira da Figueira estava previsto (interpretado por Danny de Vito), mas afinal não compareceu. Nem o general Alcazar, ou vendedor de seguros Lampião, a Irma, camareira do rouxinol milanês, e o ensurdecido Professor Girassol. De resto toda a meticulosidade de Hergé, e o seu amor pela tecnologia de transportes, estão presentes nas batalhas navais, nas perseguições com side-cars e modelos de carros dos anos 30, com hidro-aviões amarelos, botes e navios. É preciso ver que Tintin chegou à lua, 16 anos antes de Armstrong. Há, além da banda sonora, um genérico fabuloso, e um diálogo muito à Indiana Jones, agora vestido com calças de golfe: "Sabes pilotar", pergunta-lhe o velho lobo do mar Haddock, a bordo do hidro-avião. "Uma vez entrevistei um piloto", responde Tintin.



Ler mais: http://aeiou.visao.pt/tintin-e-de-todos=f628651#ixzz1byUSXw3d

Zona euro arranca acordo sobre plano anti-crise

A zona euro chegou esta madrugada a um acordo sobre praticamente todos os aspectos de um novo plano contra a crise que pressupõe uma redução da dívida grega e o aumento do seu fundo de estabilidade de ajuda aos países em dificuldades para “cerca de um bilião de euros”. (...)

http://economia.publico.pt/

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Presidente da República

Falta de vergonha

Bom, também ando a dizer isto há bastante tempo:

«A eleição do dr. Cavaco para Presidente da República foi uma das maiores desgraças que sucederam a Portugal e aos portugueses desde 2006. Mas foi pior do que uma desgraça. Foi um erro». (VPV, 21/10)

Mas adiante….

Agora deu-lhe para pedir «sentido de responsabilidade aos líderes europeus»(*). Claro, oportunisticamente, sabendo-se já que a cimeira de amanhã não dará em nada de especial (como felizmente a esmagadora maioria das cimeiras), nada como na véspera tentar falar grosso e de dedo em riste. É fácil e rende boa imagem. Falta-lhe é um pingo de autoridade e muita vergonha na cara.

Ou acaso esquece que uma cimeira europeia não é propriamente um grupo de pessoas num seminário ou reunião de trabalho a quem seja pedido «vá lá, entendam-se». Esse discursinho da treta da «ausência de grandes líderes» é um bocado fassita… . Nestas cimeiras estão líderes eleitos de países, representando e defendendo interesses divergentes, opostos e dificilmente reconciliáveis. Qualquer entendimento tem um elevadíssimo grau de dificuldade e implica custos elevados para as suas populações. Exemplo. Portugal emprestou o ano passado 3 mil milhões de euros à Grécia. Quer-se mesmo que o nosso PM, em nosso nome diga, «ok, perdoe-se…«? Acham mesmo que o eleitorado e os contribuintes alemães, finlandeses, franceses, luxemburgueses…estariam dispostos assim do pé para a mão a aceitar ver subir as suas taxas de juro para que gregos e portugueses tenham taxas de juro mais baixas e que caso estes não paguem as suas dívidas eles, contribuintes alemães, finaldeses, austríacos… seriam os fiadores de tais dívidas (eurobonds)? Não, pois não?

Pois é,…é feio exigir «sentido de responsabilidade» quem dela nunca assumiu a grande quota-parte na criação do «monstro» imparável que agora é preciso domar e derrotar, pelo que se agradeceria que deixasse as coisas importantes para quem de facto tem a responsabilidade de as decidir e limitar-se a entregar prémios literários, assinar de cruz leis «com que não concorda» e a ver as vacas, coisas para que, ao que consta, não lhe tem faltado a arte e o engenho.

Por Gabriel Silva
http://blasfemias.net/
22 Outubro, 2011

Que o velho continente «saia da actual crise mais forte do que entrou».

A chanceler alemã, Angela Merkel, lembrou esta quarta-feira no Parlamento alemão que Portugal «está firmemente disposto a impor» o programa de ajustamento económico negociado com a «troika» da União Europeia e o FMI.

Isto no dia em que a Comissão Europeia pediu aos líderes europeus que cheguem a um acordo «credível», na cimeira desta quarta-feira, para dar resposta à crise da dívida na Zona Euro.

A chanceler discursava antes da votação no Parlamento alemão sobre o reforço do fundo de resgate europeu, que precede o Conselho Europeu e a cimeira de líderes da Zona Euro desta noite, em Bruxelas, para aprovar um pacote de medidas para estabilizar a moeda única.

Merkel afirmou ainda que a Alemanha «não pode estar duradouramente bem se a Europa estiver mal», preconizando que o velho continente «saia da actual crise mais forte do que entrou».

Merkel defendeu uma «união de estabilidade para superar a crise e encontrar soluções sustentáveis» contra o endividamento e a falta de competitividade de alguns Estados, sublinhando que é também necessário «corrigir os erros do passado e evitar o contágio a outros países».

A chanceler prometeu ainda empenhar-se no conselho europeu e na cimeira de líderes da zona euro de hoje à noite «a favor de soluções sustentáveis», garantindo que tem havido «bons avanços» nas negociações.

Após a intervenção da chanceler, o Bundestag iniciou o debate sobre o reforço do FEEF, e votará em seguida uma moção conjunta dos partidos do Governo, democratas-cristãos e liberais, e de dois partidos da oposição, sociais-democratas e Verdes, favorável às alterações, mandatando a chanceler para negociar com os parceiros europeus esta noite, em Bruxelas, o pacote de medidas para estabilizar a Zona Euro.

Tratados europeus têm de ser alterados

A chanceler alemã disse ainda que os tratados europeus devem ser alterados para a Europa combater de forma mais eficaz a crise da dívida soberana e admitiu recorrer a mais financiamento por parte do Fundo Monetário Internacional (FMI).

Num discurso no Parlamento alemão, Merkel afirmou que a Alemanha não pode prosperar com a Europa em sofrimento, endereçou os parabéns à Grécia por ter encetado reformas «dolorosas, mas necessárias» e considerou que o país helénico vai enfrentar «um longo e duro caminho» até equilibrar as contas públicas.

No discurso que antecede a cimeira europeia desta noite, a chanceler alemã afirmou ainda que o sector privado deve aguentar um fardo «significativamente mais elevado» na reestruturação da dívida grega e que são precisas mais medidas para conter a crise da dívida, independentemente das decisões que sejam tomadas na cimeira marcada para esta noite, em Bruxelas.

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Qualidades morais de Tintin são necessárias hoje

As "qualidades morais" da personagem de banda desenhada de Hergé são "actuais, importantes e necessárias", apesar de Tintin ter sido criado no início do século XX, considerou esta segunda-feira Yves Février, representante do Museu Hergé.

Em Guimarães, a propósito da antestreia nacional do filme "As Aventuras de Tintin: O Segredo do Licorne", ao abrigo da Capital Europeia da Cultura Guimarães 2012, Yves Février descreveu o autor de Tintin como um trabalhador incansável.

"O Hergé era um escravo. Durante anos trabalhou sem parar e em 1929 criou este herói, Tintin, no qual trabalhou o resto da vida", disse.

As Aventuras de Tintin, adiantou, começaram a ser publicadas num jornal semanalmente em 1929 e após um ano destas publicações foi editado o primeiro álbum, "Tintin no país dos Sovietes".

Yves Février descreveu Tintin como "um bom menino, ao estilo dos escuteiros".

Em declarações à Agência Lusa, o representante do Museu Hergé, afirmou que "os valores defendidos por Tintin" têm "lugar" no século XXI. "Este herói representa valores morais que não só são atuais como são importantes e necessários nos dias de hoje", afirmou, explicando que "valores como os que estão na base destas histórias são intemporais".

No entanto, admitiu Février, que se a questão da actualidade dos valores de Tintin lhe fosse colocada quando era adolescente nos anos 70 diria: "Não. São antiquados e fora de moda".

Para Yves Février, a "grande inteligência" de Steven Spielberg foi "precisamente" ter-se apercebido da "actualidade da moral que está na base das aventuras do Tintin", pois, "para além da técnica de filmagem, o grande valor deste filme é a mensagem".

Este estudioso da obra de Hergé considerou ainda que a "mais valia" dos desenhos do autor de Tintin e Milou "é a noção de movimento que transmite cada vinheta da banda desenhada".

Essa "mestria", admitiu Février à Agência Lusa, "esbate-se na passagem das Aventuras de Tintin do papel para a tela de cinema, pois em cinema é fácil dar a noção de movimento, difícil é fazê-lo no papel".

Sobre a vida de Hergé, Yves Février abordou ainda a "catalogação" do artista como "colaboracionista nazi" durante a ocupação alemã na Bélgica.

"É injusto dizer que o Hergé colaborou com Hitler. É preciso analisar a história da Bélgica. O rei decidiu ficar na Bélgica nesse período e ele fez o mesmo. Mas o facto de ter continuado a trabalhar num jornal favorável ao regime foi algo que o atormentou nos anos seguintes", explicou.

Filmado, com recuso à tecnologia 'motion capture', "As Aventuras de Tintin" conta com o ator Jamie Bell no papel de Tintin e com Daniel Craig no papel do 'vilão'.

O filme "As Aventuras de Tintin: O Segredo do Licorne" estreia dia 25 no resto do país e é a mais recente película de Steven Spielberg e Peter Jackson.

por Lusa

Tintin em Guimarães

Uma ante-estreia com a presença de um dos grandes especialistas na personagem de BD criada por Hergé: Yves Février

Será na próxima quinta-feira, dia 27, que "As Aventuras de Tintin - O Segredo do Licorne" chega às salas portuguesas, em simultâneo com a sua estreia europeia. Três dias antes, já na segunda-feira, o Centro Cultural Vila Flor, em Guimarães, recebe uma ante-estreia muito especial do filme de Steven Spielberg no âmbito da Capital Europeia da Cultura, com a presença de um dos grandes especialistas na personagem de banda-desenhada criada por Hergé. Yves Février, do Museu Hergé de Louvain-la-Neuve, na Bélgica, virá a Guimarães dar uma conferência sobre Tintin, às 18h30, acompanhando a exibição do filme em 3D (na versão dobrada em português às 15h30, na versão original inglesa legendada em português às 21h30). Paralelamente, o universo de Tintin e Milu é alvo de uma iniciativa escolar de desenho que será exposta com as ante-estreias.

Realizado inteiramente no método de "performance capture" utilizado por Peter Jackson em "O Senhor dos Anéis" 
e "King Kong" e por James Cameron para criar os alienígenas Na'vi 
de "Avatar", 
"O Segredo 
do Licorne". É um projecto que Spielberg transportava há 30 anos - mais precisamente desde que lhe apontaram as semelhanças entre o intrépido repórter da banda-desenhada e o seu Indiana Jones, tal como revelado em "Os Salteadores da Arca Perdida" (1981).

Com a ajuda de Peter Jackson, co-produtor do filme e responsável pela supervisão de todo o trabalho de pós-produção gráfica, Spielberg abalançou-se finalmente a concretizar o seu sonho em 2009, sobre um argumento dos ingleses Steven Moffat, Edgar Wright e Joe Cornish que usa como centro da narrativa o álbum "O Segredo do Licorne", embora inserindo elementos de "O Caranguejo com Tenazes de Ouro" e uma série de piscadelas de olho a outras aventuras de Tintin. A 40 dias de rodagem com actores num "plateau" virtual na Nova Zelândia seguiu-se mais de ano e meio de trabalho no "revestimento" digital das interpretações dos actores (Jamie Bell, Daniel Craig, Andy Serkis e Toby Jones, entre outros) para criar um universo a meio caminho entre o traço da banda-desenhada e o fotorrealismo da animação digital.

O resultado promete dividir opiniões, quer entre os fãs de Tintin quer entre os fãs de Spielberg, que não estão habituados a ver o cineasta a abraçar tão abertamente o "cinema virtual", mesmo que com o seu amor do cinema clássico bem visível. Uma coisa podemos dizer desde já: independentemente dos resultados da adaptação, a fidelidade do filme ao espírito da série é invulgar, e consubstancia-se na extraordinária criação que é o capitão Haddock de Andy Serkis. O actor inglês está, aliás, habituado a estas coisas da "performance capture", ele que foi o Gollum de "O Senhor dos Anéis" e o King Kong para Peter Jackson, e o César de "Planeta dos Macacos - A Origem".

Resta apenas saber o veredicto do público e da crítica - a partir de dia 26 na Europa continental, mas só em Dezembro nos EUA e no Canadá, onde a personagem é menos conhecida e o filme vai estrear em simultâneo com "Cavalo de Guerra", a adaptação (em imagem real) do romance de Michael Morpurgo que Spielberg dirigiu durante a pós-produção de Tintin e que apenas chegará à Europa em Janeiro.

http://ipsilon.publico.pt/cinema

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

"Declarações de Cavaco vão ajudar o Governo"

Marcelo Rebelo de Sousa analisou hoje, no seu comentário na TVI, as declarações do Presidente da República sobre os sacrifícios pedidos no Orçamento do Estado para 2012. Em seu entender, foram a favor do Governo.

“No curto prazo, diz-se que o primeiro-ministro ficou estupefacto, mas a prazo vai perceber que ajuda. O Presidente tem uma base de apoio mais ampla que o Governo. É útil. Um Presidente totalmente colado a um Governo seria mau para o Presidente e para o Governo. O Governo vai precisa, no ano que vem, do Presidente e da sua cobertura e essa cobertura é tanto mais eficaz quanto mais amplo for o espectro de reconhecimento das pessoas, mesmo das que não gostam do Governo, que gostam do Presidente”, sustenta o Professor.

Marcelo Rebelo de Sousa considera ainda que Cavaco Silva lançou um convite ao entendimento entre Executivo e PS, que, “por razões várias de lado a lado, têm falado pouco”.

O Professor não acredita, de resto, que o chefe de Estado vá vetar o Orçamento: “No tempo do Governo Sócrates, disse claramente que um Presidente, por princípio, não veta um Orçamento, mesmo que discorde dele, porque isso é inviabilizar a política do Governo e da sua maioria”. (...)

http://rr.sapo.pt/informacao

Nova Zelândia campeã do mundo de rugby

Foi bem mais difícil do que todos os neozelandeses esperariam, mas ao bater hoje a França por apertados 8-7, a Nova Zelândia acabou com uma espera que já durava há 24 anos e sagrou-se campeã do mundo pela segunda vez na história.

Notas:

Os "All Blacks", que igualaram na liderança do "ranking" a Austrália (1991 e 1999) e a África do Sul (1995 e 2007), já tinham conquistado o título em 1987, também numa final face aos gauleses.

A França foi segunda classificada pela terceira vez, pois já tinha ocupado o mesmo lugar em 1987 e 1999.

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Bispo satisfeito com restrições à destruição de embriões

D. Manuel Clemente fala sobre a proibição de patentear a investigação com células estaminais que implique a destruição de embriões

O bispo do Porto congratula-se com a decisão judicial que proíbe o registo para fins comerciais da investigação com células estaminais que implique a destruição de embriões, afirmando que «o processo vital, desde o embrião até à morte, é unitário».

Manuel Clemente, que falava aos jornalistas, no Porto, à margem de um debate sobre ciência, afirmou ficar «satisfeito com a decisão do Tribunal» de Justiça da União Europeia, que proibiu na terça-feira patentear a investigação com células estaminais que implique a destruição de embriões, informa a agência Lusa.

«A protecção da vida é um fenómeno global», disse o prelado, que acrescentou: «Ainda bem que houve esta cautela por parte do tribunal. O processo vital desde o embrião à morte natural é um e, sem barreiras, desenvolve-se naturalmente. Cortá-lo e logo ao princípio não era bom pronuncio».

«A vida é um processo unitário que se vai desenvolvendo, quer na fase uterina quer extrauterina até que a morte chegue», sublinhou, lembrando que são «os próprios cientistas que o dizem».

A decisão do Tribunal surgiu na sequência da resolução de um litígio que envolvia a patente de uma investigação que está a ser desenvolvida pelo cientista alemão Oliver Brüstle, que conseguiu transformar células embrionárias em células neurais.

O Tribunal decidiu que não se pode patentear um procedimento que implique a extracção de células mãe obtidas a partir de um embrião humano no estádio de blastocisto quatro ou cinco dias depois da fecundação e que «implique a destruição de um embrião».

http://www.tvi24.iol.pt/

Debate aceso nas primárias republicanas

Debate republicano de ontem subiu de tom. Mitt Romney e Rick Perry tiveram uma discussão acesa sobre a questão da imigração.


A corrida republicana à Casa Branca entrou num novo patamar. Rick Perry , governador do Texas, e Mitt Romney , ex-governador do Massachusetts, elevaram o tom no debate de ontem em Las Vegas.

Os dois principais candidatos à disputa das eleições presidenciais de 2012 com Barack Obama tiveram uma violenta discussão sobre a questão da imigração.

Perry acusou Romney de, em 2006, ter contratado uma empresa que empregava trabalhadores ilegais. O ex-governador do Massachusetts defendeu-se dizendo que não sabia que a empresa que lhe tratou do relvado contratava trabalhadores ilegais.

A discussão chegou a um nível em que os outros candidatos mal conseguiram intervir. Alguns analistas políticos dizem que os candidatos usaram, pela primeira vez nesta campanha, as luvas de boxe.

http://aeiou.expresso.pt/

Indignação, trabalho e orçamento

Regressei ontem de Luanda, onde contactei com muitos portugueses e angolanos. No táxi para casa, em Lisboa, o condutor – um informático especializado em programação - confessou-me a sua vontade de ir para lá. “Não hesitaria”. Depois falámos e lamentou, “aqui só tenho trabalhos de outsourcing, por períodos de 6 meses, sem garantias”.

Ironicamente, muitas das pessoas que vi trabalharem em Luanda interiorizaram uma incerteza constante e profunda. Incerteza de segurança, incerteza política, jurídica (os vistos!), afectiva, etc. Muitos dos portugueses não imaginam a que esforço são sujeitos os que trabalham lá fora. Invejamos o dinheiro e o emprego, mas nem sempre aqui estamos disponíveis aos mesmos sacrifícios.

Aqui invocamos direitos e indignação, mas passada a fronteira estamos dispostos a tudo, ou quase tudo, para ganhar a vida e oferecer melhores condições à nossa família. Testemunhei como a vida em Luanda é dura e exigente. Mesmo para aqueles que muito ganham.

Os próximos anos vão ser de grande sacrifício. É preciso que não se eliminem as compensações e os incentivos aos que mais se esforçam e lutam, incluindo na função pública. Na altura de tomar decisões, é neles que devemos ter o olhar. É deles que podemos esperar um País com outro futuro.

por Filipe Anacoreta Correia,
http://cachimbodemagritte.com/

Papa convoca novo Encontro de Assis

Bento XVI assinala, na próxima semana, os 25 anos do Encontro de Assis. O famoso dia de oração e jejum pela paz, convocado por João Paulo II em 1986, vai ser recordado no mesmo local pelo actual Papa.

Partem todos de comboio com Bento XVI, em direcção a Assis. O pretexto é assinalar os 25 anos do famoso dia de oração e jejum pela paz que João Paulo convocou a 27 de Outubro de 1986. É já na próxima semana, nesse mesmo dia 27, que o Papa regressa a Assis para um grande encontro.

Confirmados estão já 176 participantes não cristãos de diferentes países e outras religiões: hindus, budistas, muçulmanos, judeus, sikhs e muitos mais já confirmaram a sua presença.

O objectivo é sublinhar o papel das religiões na construção da paz no mundo. Por isso, há delegações de países como o Paquistão, o Egipto, a Síria, o Irão, as Filipinas e Israel.

São 31 as delegações cristãs não católicas, entre evangélicos, luteranos, anglicanos. Há 17 ortodoxas, incluindo uma delegação do Patriarcado de Moscovo.

Muçulmanos serão cerca de 50, incluindo o Príncipe Ghazi, da Jordânia, o vice-ministro da Educação da Arábia Saudita e um representante do rei de Marrocos.

Novidade é a presença de alguns convidados sem religião: um pequeno grupo de não crentes, quase todos filósofos, que se mostram disponíveis para aprofundar a questão de Deus.

Também em Lisboa, o Centro Cultural Franciscano vai recordar os 25 anos do Encontro de Assis. No Porto, na Igreja da Cedofeita, vai decorrer uma actividade inter-religiosa.

http://rr.sapo.pt/informacao_detalhe.aspx?fid=29&did=35171

Carlos Moedas garante que surpresas desagradáveis acabaram

Criação de uma nova sobretaxa sobre os rendimentos não está em cima da mesa, assegura o secretário de Estado.

“As contas relativas a este ano estão apuradas” e, por isso, não são de esperar novos “buracos”, garante o secretário de Estado adjunto do primeiro-ministro, Carlos Moedas, em entrevista ao programa “Terça à Noite” da Renascença.

O responsável do Governo pelo acompanhamento das medidas do memorando da “troika” diz ainda que não está em cima da mesa a hipótese de em 2012 vir a ser criada nova sobretaxa sobre os rendimentos, já que este Orçamento está feito e “o que está definido no Orçamento é muito claro e muito realista”.

Carlos Moedas considera que o Orçamento do Estado para 2012 é orçamento necessário para cumprir o memorando da “troika” e, como tal, espera que o Partido Socialista actue de acordo com o que assinou.

Num registo mais pessoal, o secretário de Estado considera positivo que muitos jovens estejam a partir para fora do país, mas diz que também é importante que possam voltar.

Espera que não lhes aconteça como ocorreu com a si próprio, que levou quatro anos a tentar voltar para Portugal. “O que é triste é que queiram voltar e não consigam porque o país não lhes dá oportunidade, espero que isso venha a mudar no futuro”.

por Raquel Abecasis, 18.10.2011
http://rr.sapo.pt/informacao

IBM entrega 15 mil euros a investigadora da Universidade do Minho

Pela primeira vez o Prémio Científico IBM foi, em Portugal, entregue a uma mulher. Alexandra Silva, investigadora da Universidade do Minho, recebeu esta semana o galardão, na instituição de ensino pela qual se licenciou, em Braga.

A jovem de 27 anos é a vencedora da 21ª edição do prémio, que visava distinguir os melhores trabalhos de investigação publicados no ano de 2010 na área das Ciências da Computação e Tecnologias de Informação.

Denominado "Coálgebras de Kleene", o trabalho escolhido assenta numa generalização de um resultado clássico em teoria de computação, o Teorema de Kleene, apresentando uma nova abordagem sobre a forma de derivar linguagens de expressões regulares para modelos de computação.

Para além de Alexandra, foi distinguida outra investigadora: Maria Almeida, do Instituto Superior Técnico, que recebeu uma Menção Honrosa, pela nova abordagem à focagem de imagens proposta pelo seu projeto. Fotografia, vídeo vigilância, imagiologia médica, astronomia, observação remota ou televisão, são algumas das áreas que poderão beneficiar do método proposto pela cientista.

Nos últimos 20 anos, passaram pelas mãos do júri perto de 300 trabalhos, com as áreas das telecomunicações e ciência dos computadores a assumirem-se como as mais premiadas, revelou o presidente da IBM Portugal, em jeito de balanço.

A entrega do prémio, no valor de 15 mil euros, decorreu durante uma cerimónia, presidida pelo ministro da Educação e Ciência, Nuno Crato, que destacou a importância do papel das empresas privadas no apoio à Ciência.

"Não o conseguimos fazer sem este apoio que é fundamental", afirmou o ministro, destacando também o "imenso valor" da "continuidade e persistência" da iniciativa. "A excelência deriva do esforço e persistência. E nós temos de apostar nos jovens, são eles que vão melhorar o nosso país", concluiu.

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Cavaco ataca Governo: Orçamento viola “equidade fiscal” e afeta "coesão"

Presidente da República, Cavaco Silva, considera que a coesão social está em risco, a partir do momento em que se difunde uma ideia de “injusta repartição de sacrifícios”. Para o chefe de Estado, a suspensão do subsídio de férias é uma medida que afeta a “equidade fiscal” que qualquer proposta de Orçamento deve salvaguardar. Cavaco faz uma alusão aos "livros de economia", para justificar as suas críticas ao Governo.

Cavaco Silva, tece duras críticas à política fiscal do executivo de Passos Coelho e com uma frase sintetiza a sua discordância, manifestada repetidamente antes desta legislatura: “Mudou o Governo, mas eu não mudei de opinião”.

O Presidente da República falava de igualdade de repartição de sacrifícios e, na sua opinião, ao retirar benefícios a uns, sem que outros contribuam do mesmo modo, para ultrapassar a crise, “põe em causa a coesão nacional”.

O Governo de Passos Coelho não é, assim, poupado às criticas do Presidente da República, que discorda da proposta de Orçamento de Estado para 2012 e considera que retirar subsídios a pensionistas e trabalhadores da Função Pública “viola princípios básicos como a equidade fiscal”.

O ministro das Finanças, Vítor Gaspar, ouve uma lição de Cavaco, que se baseia em “livros”, que “ensinam quais são os princípios básicos de equidade fiscal”. Segundo o Presidente da República, “é sabido por todos os que estudam esses livros que cortar vencimentos, ou pensões a grupos específicos é um imposto”.

Numa das mais “difíceis crises da história da Democracia”, Portugal deve reforçar esses valores de equidade. Mas, segundo Cavaco, medidas de austeridade mal repartidas podem provocar o efeito contrário.

O Presidente da República considera que fatores externos contribuíram para a crise portuguesa, mas lança um olha para dentro de fronteiras, na hora de procurar culpados: “Os nossos problemas residem, sobretudo, na falta de competitividade, no desequilíbrio das contas públicas e no excesso de dívida”.

Orçamento de Estado aumenta preocupações

Cavaco Silva – que participava na abertura do Congresso da Ordem dos Economistas, em Lisboa – perspetiva “uma recessão profunda” e vê o desemprego “atingir níveis sem precedentes”. Por outro lado, as famílias estão sem meios para agitar a economia através do consumo e “as empresas não encontram formas de financiamento”.

“Os últimos anos expuseram de forma dramática os desequilíbrios da economia e a insustentabilidade da estratégia que vinha a ser seguida”, disse. E este olhar para o passado associado à frase “mudou o Governo, mas não muda a minha opinião” deixa perceber que Cavaco viu as suas preocupações acrescidas, depois de conhecer a proposta de Orçamento.

“Não estou a dizer-vos nada de novo”, vincou o chefe de Estado, que reitera assim as palavras que dissera quando José Sócrates era primeiro-ministro...

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Refugiados

Refugiados: Santa Sé exige novas estratégias

GENEBRA, terça-feira, 18 de outubro de 2011 (ZENIT.org) – O observador permanente da Santa Sé junto às Nações Unidas em Genebra, Dom Silvano Tomasi, pediu “novas estratégias” e “novas políticas” para a defesa dos refugiados.

Em uma intervenção pronunciada em 4 de outubro, em Genebra, por ocasião da 62ª sessão do Comitê Executivo da Agência das Nações Unidas para o Refugiado (ACNUR), lamentou as condições com as que se acolhem alguns refugiados.

De maneira particular, referiu-se ao problema do acolhimento dos menores, que convidou a tratar “como crianças”.

Avaliou o “efeito civilizador” da Convenção sobre o Estatuto dos Refugiados, que entrou em vigor em 1951, com o objectivo de “garantir aos refugiados o exercício mais amplo possível dos seus direitos e liberdades fundamentais”.

Dom Tomasi lamentou que, “em muitas regiões do mundo, milhões de refugiados ainda não estejam em condições de desfrutar destes direitos”.

Em sua intervenção, Dom Tomasi denunciou firmemente as condições de acolhimento, que comparou com as do sistema penitenciário.

“Estas pessoas que buscam a proteção ou maneiras para tentar sobreviver são literalmente fechadas e vigiladas como se fossem presos criminais e inclusive as crianças são submetidas às mesmas condições”, disse.

“O ambiente parecido ao das prisões, que existe em muitos destes centros, o isolamento do 'mundo exterior', o fluxo incompreensível de informações e a destruição de um projeto de vida afectam a saúde mental e física dos que pedem asilo e causam stress psicológico, depressão, insegurança, diminuição do apetite e insônia em diversos graus”, explicou.

“É, portanto, urgente desenvolver e promover alternativas”, afirmou. Entre as propostas da Santa Sé, encontram-se “programas comunitários, introduzir mecanismos de controle e de informação, formar grupos de apoio e acrescentar centros de visitas aos projetos de casas abertas para que pelo menos as famílias com filhos possam residir em um ambiente de vida seguro”.

Dom Tomasi também se referiu ao problema dos menores não acompanhados que, em milhares, “viajam à Europa, desafiando o sistema de proteção dos países que atravessam”.

Eles “devem sobretudo ser tratados como crianças e a principal preocupação deve ser defender seu maior interesse, independentemente do motivo da sua fuga”.

“As investigações demonstraram que, como fonte de motivação e de apoio, a religião é considerada importante por estes menores que desejam a disponibilidade de conselheiros espirituais”, afirmou.

O observador permanente desejou, finalmente, “novas estratégias e novas políticas”, que permitam “compreender as causas primeiras” e “definir a gestão das fronteiras e da integração”.

“A compaixão criativa se torna possível quando tem um autêntico sentido de solidariedade e de responsabilidade com relação aos membros mais necessitados da nossa família humana”, indicou.


E concluiu: “Os refugiados não são números anónimos, mas pessoas, homens, mulheres, crianças, com suas histórias individuais, com dons a ser colocados à disposição e aspirações a satisfazer”.

França: sondagem coloca Hollande à frente de Sarkozy nas eleições presidenciais

[Ainda falta imenso tempo, mas...]

François Hollande, eleito no domingo para representar o partido socialista nas eleições presidenciais de 2012, lidera as intenções de voto com larga maioria, com 62 por cento contra os 38 por cento de Nicolas Sarkozy, segundo uma sondagem divulgada hoje.


Na primeira volta, François Hollande surge com 35 por cento das intenções de voto, seguido de Nicolas Sarkozy, com 25 por cento, da candidata de extrema-direita Marine Le Pen (16 por cento) e do centrista François Bayrou (9 por cento), revela a sondagem do instituto CSA.

O instituto considera que "a ambição de Nicolas Sarkozy de chegar à segunda volta parece difícil de realizar, uma vez que 61 por cento dos franceses excluem votar nele na primeira volta".

Na segunda volta, "as indicações de voto tanto à esquerda como ao centro", permitiriam a François Hollande obter 62 por cento.

Segundo o CSA, 65 por cento dos inquiridos pensam que "o projeto presidencial delineado por François Hollande" é "mais ao centro-esquerda" e 19 por cento consideram-no "verdadeiramente de esquerda".

Destak/Lusa | destak@destak.pt

terça-feira, 18 de outubro de 2011

picadinho de coq au vin

Quem diria, na fase de grupos do Mundial, que a França derrotada sem apelo nem agravo pela Nova Zelândia e por Tonga estaria na final? E, no entanto, ela move-se.

Bastou-lhe um jogo mediano contra a medianíssima Inglaterra, há uma semana, e uma hora de sorte contra Gales no Sábado, et voilá. Maxime Médard, um dos poucos tricolores a fugir à banalidade até agora, resumiu o sentimento de embaraço colectivo (e olhem que não é fácil embaraçá-los, com o futebol que têm...) quando admitiu que todos os deuses do rugby tinham estado por eles. Liberté, egalité, divinité, eis a nova divisa da République. Bem podem esquecer por momentos a laicidade e agradecer ao todos os inquilinos dos Campos Elísios. Como sentenciou o lendário François Pienaar, o capitão dos Springboks que ergueu a taça em 95 nas barbas de Lomu e companhia, esta França é a pior finalista de sempre. Não amira que os neozelandeses tenham visto na sua vitória sobre a Austrália a verdadeira final, ainda por cima ganha por 20-6 sem especial dificuldade, e exibam desde anteontem aquele sorriso "we are the champions" que faz dos kiwis um povo de gajos porreiros - excepto quando estão prestes a vencer um Mundial. Felizmente, só acontece de dez em dez anos. Os deuses podem ser franceses, mas não dormem.

Para Gales, pelo contrário, a lei de Murphy substituiu-se à Providência: tudo o que podia correr mal correu. Os experientíssimos James Hook e Stephen Jones, que jogaram sucessivamente a abertura por lesão do titular Priestland, estão com falta de rodagem e falharam quase todos os pontapés que havia para falhar, incluindo a conversão de mais um brilhante ensaio de Mike Phillips (ao poste) e uma incompreensível hesitação em matar o jogo nos últimos minutos com o drop da praxe.

Halfpenny, revelação da prova a arrière, fez passar por baixo do H uma penalidade de 50 metros semelhante à que tinha convertido contra a Irlanda. Pior ainda, muito pior, o skipper Warburton foi expulso aos 17 minutos por placagem perigosa, obrigando os galeses a jogar uma hora inteira com um a menos - e logo o seu jogador mais influente. Mesmo assim, os frogs nunca arriscaram jogar ao largo, para vergonha do tradicional french flair, e limitaram-se a aproveitar as penalidades concedidas. Resultado: 9-8. Blaaargh!

A expulsão de Warburton, verdadeiro momento do jogo, é muitíssimo polémica e incendiou os media britânicos durante o fim-de-semana. O mister Gatland clamou aos quatro ventos que os dragões foram "roubados do seu destino", que seria vencer o mais importante acontecimento desportivo da história do país (uma alegação de peso, tendo em conta o esforço dos archeiros galeses na Guerra dos Cem Anos, uma espécie de Cinco Nações medieval). Em Cardiff, até o Primeiro-Ministro Carwin Jones acusou o árbitro Allan Rolland (irlandês, para cúmulo do azar) de ter "arruinado" um tal momento histórico. E Mike Phillips, menos eloquente ou talvez não, limitou-se a rosnar que os franceses ganharam mal e vão ser feitos em pedacinhos por quem quer que vá à final com eles.

Têm razão? Têm. Como se pode ver acima, a placagem de Warburton é uma speer tackle, uma placagem em que o placador levanta do chão o jogador placado e o projecta sem controlar a queda. Jogo perigoso, sem dúvida, e punido pelas leis do jogo com a expulsão - se intencional. Ora, como também se pode ver acima, o galês larga Clerc no ar porque quer jogar a bola. Não há qualquer intenção de jogo perigoso, apenas uma desproporção evidente entre o peso e a força dos dois. Por amarga ironia, Gales e o seu capitão foram agora vítimas da tremenda garra que lhes deu a vitória contra a Irlanda. Torna-se muito difícil ao árbitro avaliar a intenção quando a jogada é tão rápida, mas exigia-se que aplicasse o espírito e não a letra da lei, ou seja, que optasse pela pena mínima atendendo às circunstâncias. Warburton pode orgulhar-se de um cadastro invulgarmente limpo para um terceira-linha. Clerc não se lesionou.

Qualquer expulsão ao fim de um quarto de hora teria consequências no resultado. E era uma meia-final. Um cartão amarelo e a correspondente expulsão de dez minutos seria a melhor decisão. Rolland não entendeu assim, oferecendo à França uma imerecida presença em Eden Park no próximo Domingo e aos All Blacks um dos mais fracos adversários a sair da fase de grupos. Porque ninguém duvida que os maoris vão voltar a fazer picadinho de coq au vin, como há um mês e como em 87. Provavelmente, o cartão vermelho do Sr. Rolland decidiu o Mundial.


por Pedro Picoito,
http://cachimbodemagritte.com/

Reabilitação Urbana: É urgente salvar Braga!

Sessão promovida pela Coligação “Juntos por Braga” encheu Auditório da Junta da Sé
Reabilitação urbana exige acção conjugada com privados “para salvar a cidade”

A reabilitação urbana “não se compagina com a rapidez”, torna-se “fundamental, antes de se avançar com um processo deste tipo, fazer um aprofundado estudo em termos de investimento articulando a equação económica em função dos privados” e o que é uma realidade é que “as nossas cidades precisam de ser salvas”.

Estas foram algumas das ideias deixadas por Rui Quelhas e José Teixeira, os dois oradores convidados pela Coligação “Juntos por Braga” para falarem sobre a reabilitação urbana, numa sessão que encheu por completo o Auditório da Junta de Freguesia da Sé, em que se destacou a participação eclética de empresários, arquitectos, estudantes e autarcas.

A reabilitação urbana da cidade de Braga – disse no início da sessão o líder da Coligação, Ricardo Rio – “é um projecto incontornável, decisivo e prioritário para o nosso concelho”, sendo “importante tanto do ponto de vista económico como na vertente social”. Com esta sessão a Coligação pretendeu “um debate alargado”, com os contributos diferenciados de um responsável por um profundo processo de reabilitação urbana (no caso, da cidade do Porto), Rui Quelhas, e de um empresário do sector privado bracarense, José Teixeira (da DST). E porquê estes dois convidados? Ricardo Rio esclareceu, a propósito, que “este não é um esforço estritamente público, mas também de parceria público-privada”, porque “torna-se fundamental trazer o investimento privado para este desígnio”.


“A revitalização exige um esforço aturado de planeamento”

Ora, foi precisamente esta uma das vertentes vincadas na intervenção do administrador-delegado da Porto Vivo – Sociedade de Reabilitação Urbana (SRU). Rui Quelhas demonstrou, com mais do que um exemplo, como é possível atrair o investimento privado – com efectivo retorno, devidamente calculado e sustentado – a um processo de reabilitação urbana. A Porto Vivo – disse Rui Quelhas – “assenta muito mais na revitalização”, envolvendo “uma reabilitação muito voltada para os investidores”, funcionando a SRU “como acompanhamento do processo e até mesmo como uma espécie de agência de investimento”. Lembrando que “toda a gente já percebeu que não faz sentido a construção nova, porque há um excedente nesta vertente”, Rui Quelhas alertou no entanto que “a reabilitação urbana não se compagina com a rapidez, porque, pela nossa experiência, um projecto desta natureza demora cerca de 30 meses até ficar concluído, há depois a fase de construção que calculamos em 18 meses e podemos dizer que só a partir do quinto ano é que se pode falar de retorno”.

O administrador-delegado da Porto Vivo SRU lembrou ainda que “hoje em dia as cidades estão cada vez mais a apostar nos serviços e no turismo”, sendo que se torna “fundamental que, antes de se avançar com o processo de reabilitação urbana, se faça um aprofundado estudo em termos de investimento, testando a equação económica também em função dos privados”. De acordo com Rui Quelhas, “é necessário estabelecer uma articulação muito grande com os investidores e com os conhecedores do mercado”.

“É preciso salvar Braga!”

Precisamente o “conhecimento do mercado” é uma das “garantias” de José Teixeira, presidente do Conselho de Administração da DST, SGPS. Que desde logo, no início da sua intervenção, fez uma análise retrospectiva da situação que conduziu à degradação do património histórico das cidades e, logo, ao progressivo abandono das pessoas desse território, para assinalar que “assim não é possível aproveitar todas as potencialidades existentes, como por exemplo, o turismo ou a restauração”.

José Teixeira entrou depois na análise do que chamou “os factores de pressão” que podem condicionar os privados a não apostar na reabilitação urbana – destacando, entre outros casos, a restrição ao crédito, a construção de raiz (que disse ser “um perfeito disparate”) ou a crise na engenharia e na construção. Mas – afirmou – “as nossas cidades precisam de ser salvas”.

Ilustrando a sua intervenção com múltiplas fotos de edifícios degradados do centro da cidade de Braga, o líder da DST apresentou uma visão ambiciosa para o futuro da cidade de Braga, assente “numa lógica cosmopolita, com energia e mundo”.

Para tal, defendeu, “é preciso repovoar o centro com jovens e reforçar a ligação ao mundo universitário, trazendo para esta zona as “tribos” das artes”, o que será possível com a criação de uma “Escola de Artes, com a instalação de um Museu de Arte Contemporânea e com outros projectos arrojados que conciliem os “nativos” do centro com as novas gentes que urge seduzir”.

Esta é, no seu entender, uma visão exequível, graças a mecanismos como a criação de uma “Sociedade de Reabilitação Urbana, participada pelo Município, por investidores privados e pelos próprios proprietários”, que “trabalhe com margens razoáveis validadas pelo mercado” e que seja orientada quer para o “arrendamento quer para a venda dos imóveis recuperados”

Bracarenses anseiam por projectos nesta área e Ricardo Rio assume-a como primeira prioridade da Gestão Municipal

A multifacetada e preenchida plateia que lotou o auditório da Sé não se fez também rogada nas múltiplas questões e comentários ao teor das intervenções anteriores, destacando a necessidade de “Braga avançar com uma acção decidida nesta área”, “centrada nas pessoas” e capaz de “mobilizar os diferentes stakeholders destes processos”.

Embora reconhecendo a diferente atractividade e escala das realidades de Braga e Porto, um dos arquitectos presentes realçou a “oportunidade” que consiste no facto de “o centro da cidade estar bem desenhado” ao contrário das demais zonas de expansão urbanas, “muito condicionadas aos interesses imobiliários que condicionaram a construção dos PDMs”.

No seu entender, há também que destacar o “enorme potencial associado ao aproveitamento de edifícios de referência hoje ao abandono e em progressivo estado de degradação”.

Na sua intervenção final, o líder da Coligação “Juntos por Braga” assumiu que um arrojado projecto de regeneração urbana estará na primeira linha das prioridades da nova gestão municipal.

Para tal, disse ser necessário “mobilizar todos os agentes de desenvolvimento para este desígnio”, sejam eles a Universidade, a Igreja ou o tecido empresarial, concretizando “iniciativas diferenciadoras e capazes de responder às necessidades concretas dos cidadãos”.

Ricardo Rio destacou ainda a “convergência de posições” entre a visão apresentada por José Teixeira e os exemplos já praticados no Porto e as propostas constantes do Programa da Coligação às últimas Eleições Autárquicas.

Mas, destacou, este esforço requer também a “validação e mobilização dos cidadãos”, a quem cabe dizer de forma clara se querem ou não “uma cidade diferente para melhor, uma cidade culta, cosmopolita e cool”.


Braga, 17 de Outubro de 2011
O Gabinete de Comunicação da Coligação “Juntos Por Braga”

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Hollande ganha PS francês e será o adversário de Sarkozy em 2012

Os primeiros resultados divulgados deram-lhe 56,5%, pouco depois Martine Aubry reconheceu a derrota. François Hollande será o candidato do PS francês às eleições do próximo ano.

Não é uma vitória inesperada, que as sondagens já lhe tinham dado alguma vantagem. Hollande, de 57 anos, ganhou neste domingo a segunda volta das eleições para escolher o candidato socialista que irá disputar as presidenciais francesas previstas para Abril ou Maio do próximo ano. Irá procurar derrotar o actual Presidente, Nicolas Sarkozy, que apesar de ainda não ter anunciado a sua candidatura deverá procurar ser reeleito.

“Recebi o mandato imperioso de fazer ganhar a esquerda”, disse Hollande no seu discurso de vitória na sede do Partido Socialista francês. “É nisso que concentrarei todas as minhas forças e toda a minha energia.”

A vitória, disse, deu-lhe “a força e a legitimidade para preparar a disputa presidencial”. E também lhe terá dado confiança.
“Os franceses não podem mais com as políticas de Sarkozy. Nós vamos ganhar”.

Ao referir problemas como o desemprego, mas também “a crise financeira, os excessos da mundialização, as insuficiências da Europa e os atentados ambientais”, Hollande garantiu que entende “a indignação daqueles que não podem mais”.

Pouco depois de terem sido divulgados os primeiros resultados parciais – 56,5% para Hollande e 43,5% para Aubry – a candidata reconheceu a derrota. “Saúdo calorosamente a vitória de François Hollande, o nosso candidato para as presidenciais de 2012”, disse. “É hora de nos juntarmos em torno do nosso candidato.”

Hollande estava à frente nas sondagens para as eleições deste domingo, umas primárias ao estilo americano em que os socialistas ou simpatizantes do partido puderam escolher o seu candidato e nas quais participaram cerca de três milhões de eleitores. A vantagem para Hollande era de 13% quando estavam contados cerca de 486 mil votos e manteve-se quando já tinham sido contabilizados dois terços dos boletins.

Vencedor da primeira volta das eleições com 39,2% contra 30,4% para Aubry, Hollande, nunca participou em qualquer Executivo e tem sido acusado de falta de experiência governativa, mas liderou o Partido Socialista francês entre 1997 e 2008 e é deputado desde 1988. Nesta segunda volta das eleições contou com o apoio de quatro candidatos que foram eliminados no primeiro escrutínio – Arnaud Montebourg, que obteve 17,2%, a sua ex-mulher Ségòlene Royal (6,9%), Manuel Valls (5,6%) e Jean Michel Baylet (0,6%).

Já Aubry, filha de Jacques Delors, foi ministra do Trabalho de Lionel Jospin, entre 1997 e 2000, está à frente da câmara de Lille desde 2001 e é secretária do PS desde 2008.

Apesar de Aubry ter sido apontada como vencedora de um debate que ocorreu quarta-feira, as sondagens deram Hollande como o favorito, embora por margem reduzida: 53% contra 47%, segundo um estudo do OpinionWay Fiducial para o jornal “Fígaro” e a cadeia LCI. Mas apesar de os resultados definitivos não terem sido ainda divulgados, prevê-se que Hollande vença por uma margem superior.

Por Isabel Gorjão Santos, 16.10.2011
http://www.publico.pt com agências

Ricardo Rio

Ricardo Rio fala com a convicção de quem já ganhou as próximas eleições. A meio do actual mandato autárquico, o vereador do PSD admite uma privatização parcial dos transportes urbanos de Braga. O líder da oposição calcula que mais de 10 por cento do orçamento municipal esgota-se nos compromissos da parceria público-privado e do novo estádio.

P - Já foi por duas vezes candidato a presidente da Câmara de Braga. Vai recandidatar-se?
R - Assim o desejo. É nesse sentido que tenho desenvolvido o meu trabalho político autárquico ao longo destes dois anos e que pretendo desenvolvê-lo nos próximos dois. E também respaldado no apoio que me foi expresso, desde a primeira hora, pelos órgãos e dirigentes dos partidos da coligação ‘Juntos por Braga’ (n.r. PSD, CDS-PP e PPM). Ainda recentemente, o líder do PSD e primeiro-ministro expressou isso mesmo. Partilho a convicção de que serei o próximo presidente da Câmara de Braga.

P - Tirando alguns imponderáveis que podem surgir, é o candidato da coligação ‘Juntos por Braga’?
R - Isso terá que passar por um processo formal de reconhecimento dos partidos. A minha convicção é que esse processo formal irá confirmar aquilo que é hoje a minha convicção de que os bracarenses não perceberiam que o candidato da coligação nas próximas eleições autárquicas fosse outro que não o Ricardo Rio.

P - Não é habitual na política portuguesa alguém que perde duas eleições autárquicas seguidas recandidatar-se uma terceira vez. Chegou a ponderar não avançar mais, embora tenha subido a sua votação da primeira para a segunda eleição ?
R - Quem desenvolve um trabalho de oposição como nós desenvolvemos em Braga, a reflexão que tem de fazer é pessoal, mais do que sobre a capacidade política. Tem de pensar se se sente motivado e disponível para continuar um trabalho que, por vezes, é ingrato, que exige sacrifício pessoal, profissional, familiar e financeiro, e se o deseja fazer tendo por vista propiciar algo diferente aos seus concidadãos. Eu fiz essa reflexão e ponderei se este era o caminho que deveria manter na minha intervenção pública. Aí foi decisivo o apoio que recebi da minha equipa, de vários dirigentes e de autarcas de freguesias. Eu não quero ser candidato, eu quero ser o próximo presidente da Câmara de Braga. Não acredito que exista um eleitor da coligação ‘Juntos por Braga’ que, neste momento, se sinta defraudado com o seu voto nas últimas eleições. A progressão eleitoral de 2001 para 2005 de cerca de cinco mil votos, de 2005 para 2009 com mais 6 500 eleitores, continuará a verificar-se nas próximas eleições.

P - São já evidentes as movimentações no interior do PS para a escolha do candidato à Câmara de Braga, já que o actual presidente não se pode recandidatar. O deputado António Braga e o vereador Victor Sousa são apontados como candidatos do PS...
R - E o vereador Hugo Pires.

P - Qual é o melhor candidato para os interesses da coligação ‘Juntos por Braga’?
R - É muito difícil avaliar objectivamente, na óptica dos interesses da coligação, qual seria o melhor candidato do PS. São pessoas com perfis e experiências diferentes, mas que acabam por ter uma linha comum: todos, de uma forma continuada e indefectível, mostraram-se sempre alinhados com a gestão de Mesquita Machado e nunca conseguiram contribuir para um paradigma de mudança dessa mesma gestão.

P - É-lhe indiferente um ou outro candidato do PS?
R - É. Foi assim que fizemos no passado. Sempre assumi que o nosso trabalho é feito com base em projectos e ideias para a cidade, com base em contactos que vamos tendo com instituições e pessoas.

P - Olhando para a história autárquica em Braga, Mesquita Machado é a mais-valia do PS. As próximas eleições são a oportunidade de ouro de a coligação ‘Juntos por Braga’ chegar ao poder?
R - Tenho a convicção de que Mesquita Machado podia ter perdido as eleições de 2009.

P - Por que é que não perdeu?
R - Por um conjunto de factores, mais ou menos objectivos. Quem está no poder tem meios para usar um último argumento junto do eleitorado. A capacidade de, à boca das eleições, se proceder a centenas de inaugurações, muitas delas despropositadas, acaba por criar a ilusão de realização. Para além disso, nas últimas eleições autárquicas, houve um factor que foi decisivo: o peso da carga emotiva da substituição do presidente Mesquita Machado, depois de tantos anos de exercício do cargo. Acho que em muitos bracarenses esteve presente a ideia do último mandato de Mesquita Machado. Pensaram: Por que é que o vamos mudar agora? Ricardo Rio ainda é uma pessoa nova. Foi pena que assim acontecesse, porque perderam-se quatro anos. Se o anterior mandato não foi particularmente brilhante, este tem sido marcado por circunstâncias que agravam o desencanto.

P - Se tivesse sido eleito presidente da Câmara de Braga em 2009, com a conjuntura económico-financeira que o país atravessa, teria tido capacidade de fazer melhor do que o PS?
R - A mudança na gestão da câmara não tem apenas a ver com a forma como os recursos são alocados, embora isso também seja importante. Tenho dado como exemplo o Parque do Picoto, que eu julgo que não é um projecto que vem criar uma verdadeira mais-valia, atendendo às necessidades da cidade.

P - Se fosse presidente, não avançaria com o projecto do Picoto?
R - Nesta fase e com as actuais condições não avançaria. Há uma questão que é crítica: as expropriações. A câmara está a trabalhar sem rede nesta matéria. Não há um valor claro dos custos das expropriações. É uma maneira irresponsável de conduzir este processo, arriscando-se a repetição daquilo que se passou com o novo estádio municipal.

P - Está a dizer que com as mesmas restrições orçamentais e com a queda de receitas a pique no sector do urbanismo faria melhor?
R - Convém dizer que, no que respeita ao IMI, com a política que a Câmara tem seguido com aplicação de taxas máximas, as receitas têm subido. Muito mais prioritário que o Monte Picoto seria investir no Parque das Sete Fontes. Há outros projectos que são absolutamente prioritários para o futuro da cidade, como é a regeneração urbana. A Câmara já se predispôs a estudar o problema, mas basta ver os fundos necessários para concretizar um projecto de regeneração urbana para perceber que aquilo que se gastou no estádio municipal ou na constituição da parceria público-privado e no Picoto é desviar recursos daquilo que é prioritário.

P - Se tivesse sido eleito presidente da Câmara, teria que assumir esses custos do estádio e da parceria público-privadas.
R - Em relação ao estádio, sim. Relativamente à parceria, não necessariamente. A Câmara tem vindo a retirar projectos da parceria.

P - Mesquita Machado disse que algumas obras sairiam da parceria se houvesse financiamento comunitário.
R - Até agora não tiveram. Recordo a piscina olímpica, que para nós é um projecto emblemático da má gestão socialista dos últimos anos.

P - Tem criticado o PS pela fixação de taxas máximas do IMI e da derrama municipal, mas o PSD, a nível nacional, tem defendido a necessidade de mais receita fiscal. É justo pedir à Câmara de Braga que vá em sentido contrário?
R - É justo atendendo ao suposto diferente enquadramento do país e do município de Braga. No dia em que Mesquita Machado disser que a Câmara está numa situação de pré-falência como está hoje o país e necessita de meios financeiros para solver os seus compromissos, sou o primeiro a dizer que vamos socorrer-nos de todos os meios ao nosso alcance. O que ouvimos o presidente dizer é que a Câmara tem grande capacidade financeira e de endividamento. Infelizmente, os bracarenses só vão saber qual é a real situação financeira da Câmara quando uma nova gestão entrar na Praça do Município. Convém recordar um relatório da Inspecção de Finanças, no final do anterior mandato, que denunciava a ocultação de despesas e a não conformidade dos reportes financeiros.

P - Como economista, quando analisa os relatórios da Câmara fica com dúvidas?
R - Fico. Não tanto pelo que lá está mas pelo que lá não está.

P - Tem noção dos encargos financeiros da parceria público-privada?
R - Representa entre cinco e sete por cento do orçamento camarário. Os encargos com o estádio e as expropriações do parque norte representam seis a sete por cento. Mais de dez por cento do orçamento é esgotado em compromissos assumidos no passado.

P - Que parâmetros deve ter o próximo orçamento camarário?
R - Deveria ser capaz de mobilizar a sociedade bracarense. Estou a lembrar-me, por exemplo, das agendas que foram negociadas com a Universidade do Minho e que, dois anos volvidos, tiveram zero de concretização.

P - A propósito da regeneração urbana, chegou a falar-se de uma nova empresa pública municipal. Tendo em conta que a ‘troika’ aconselha a não constituição de novas empresas municipais, não há aqui uma opção em contra-ciclo, assumido pela própria coligação?
R - A coligação nunca defendeu a criação de uma nova empresa municipal. Defendo que a regeneração urbana deve ser integrada na empresa municipal Bragahabit ou nos serviços municipais. Aquilo que a coligação defendeu nas eleições de 2009 e que um estudo recente vem corroborar é a necessidade de uma verdadeira parceria público-privada para concretizar o projecto da regeneração urbana. Na nossa perspectiva, isso concretizar-se-ia com a constituição de um fundo de investimento imobiliário onde os proprietários poderiam participar com entregas em espécie dos imóveis.

P - O que é que defende para o conjunto das empresas municipais?
R - É preciso clarificar a sua intervenção estratégica. A Bragahabit não pode ser uma empresa de apoio à habitação e depois dispersar-se em outras áreas de actividade que não são o cerne do seu objecto social. Já uma intervenção na regeneração urbana, de apoio às juntas de freguesia na criação de habitação a custos controlados, de relacionamento com associações de moradores e de condóminos, isso parece-me claro. No caso do Parque de Exposições de Braga, defendemos que deve alargar a sua actuação no sentido de ser uma empresa de dinamização económica que integre a gestão do mercado municipal, a participação no mercado abastecedor e o projecto Braga Digital.

P - O Projecto Braga Digital ainda existe?
R - Eu presumo que exista.

P - Tem-se ouvido pouco a coligação ‘Juntos por Braga’ falar do Braga Digital.
R - A última vez foi a propósito da alienação da Escola Profissional de Braga, quando descobrimos que o ‘data center’ ali instalado estava desaproveitado. O grande problema do Braga Digital é que o investimento feito não teve um efeito claro reprodutivo. Há pequenos progressos na gestão dos transportes urbanos, mas no cômputo geral o investimento foi um fracasso claro. Uma Câmara como a de Braga já devia estar dotada de um serviço de gestão da informação e de tramitação de processos verdadeiramente fluida.

P - Se fosse presidente da Câmara nesta altura, a empresa municipal Transportes Urbanos de Braga (TUB) era para continuar?
R - Os TUB são a situação mais complicada do ponto de vista financeiro. É a empresa que acumula mais prejuízos.

P - Com a justificação de que presta serviço social...
R - Aí é a pedra de toque. Temos que pensar que a eventual extinção de uma empresa desta natureza não extingue o serviço por ela prestado. Esse serviço é inalienável.

P - E pode ser prestado por privados?
R - Pode. É possível o equilíbrio entre a qualidade do serviço e o preço. Isso foi conseguido com algum sucesso na Agere, com alguns cuidados que é preciso ter na angariação de receitas para que elas não sejam excessivas face ao potencial de pagamento de utentes.

P - Em sua opinião, isso verifica-se na Agere?
R - As taxas de ligação às redes de água e saneamento parecem-me claramente excessivas.

P - Nos TUB será possível alienar a privados?
R - Julgo que é possível abrir uma participação a privados, mas mantendo sempre a maioria de capital público como acontece na Agere e, mais do que isso, um exercício efectivo da maioria. O que vemos é que a Câmara, nas entidades em que tem maioria, não exerce esse poder maioritário. Há uma questão central em relação às empresas municipais: a responsabilização dos gestores. Não é possível olhar para uma empresa municipal sem definir objectivos claros, quantificados e calendarizados para os que exercem funções de gestão. Em Braga as empresas municipais nunca foram pólo de recrutamento de gestores muito capazes, mas sim de recompensa para aqueles que exerceram funções autárquicas e foram gozar as suas reformas douradas.

P - Justifica-se a Câmara ser proprietária do Theatro Circo?
R - Julgo que sim. O Theatro Circo tem um enquadramento histórico.

P - Mas se defende uma participação privada nos TUB...
R - Há que distinguir duas questões: uma é a detenção do capital, outra é a gestão. Julgo que é possível alienar ou contratualizar a gestão com entidades privadas sem ter que alienar capital. Em todos os programas eleitorais do PSD se defendeu que o Parque de Exposições de Braga devia ser gerido pelas associações empresariais, nunca se disse que se deveria aliená-lo a essas associações.

P - O Theatro Circo poderia ter uma gestão privada?
R - Lamentavelmente, o Theatro Circo é umas das situações em que a Câmara investiu no ‘hardware’ e não no ‘software’. Fez-se uma recuperação notável do edifício mas, depois do director Paulo Brandão, houve um esfaziamento progressivo da actividade com a redução substancial do financiamento. O Theatro Circo continua muito aquém daquilo que poderia ser enquanto agente dinamizador cultural do concelho.

P - Apontou a piscina olímpica como exemplo do despesismo da gestão socialista e diz que não investirá mais dez ou doze milhões de euros na sua conclusão. Qual é a solução? Demolir o que está feito?
R - Não, até porque a demolição teria custos. Terá de haver uma conversa com o arquitecto para perceber se é possível transformar aquela estrutura onde já se gastaram oito, nove ou dez milhões de euros em algo utilizável sem um custo tão significativo. Gastar mais 12 ou 13 milhões de euros para concluir a obra é algo absolutamente impensável e criminoso até. Com o valor que falta para concluir aquele equipamento, eu consigo fazer duas ou três piscinas. Eu disse que a estrutura da piscina poderia ficar como memorial do despesismo socialista, mas é óbvio que ninguém quer ficar com uma obra inacabada. O grande parque urbano norte que a Câmara apregoou anos a fio esvaziou-se e fica ilustrado na estrutura inacabada que são as piscinas olímpicas.

P - Vai ser candidato à Câmara de Braga num quadro de reorganização administrativa, com menos freguesias e um sistema de eleição com lista à Assembleia Municipal. Relativamente à reforma das freguesias, parece estar algo reticente em relação ao mapa que é proposto para Braga. Tem uma proposta de mapa para o concelho?
R - Mapa não tenho. A reforma, tal como está configurada, terá que respeitar determinados critérios, embora numa sessão de esclarecimento sobre esta matéria, o nosso companheiro Paulo Júlio ( n.r. secretário de Estado das Autarquias Locais) tenha dito que aqueles critérios são indicativos, uma primeira proposta para desencadear o processo. Espera-se que, localmente, surjam propostas concretas. Eu acho que é importante racionalizar a administração local. Mais do que um controle dos custos associados ao funcionamento das juntas de freguesia, vai ser um contributo para algo que, lamentavelmente, não aconteceu no passado, à escala dos municípios e das freguesias: um planeamento integrado do território.

P - Isso não é possível fazer-se com o actual número de freguesias?
R - Poderia ter sido e lamentavelmente não foi. Não se olhou para uma coope- ração das freguesias e dos municípios.

P - No caso de Braga, a passagem de 62 para 20 freguesias...

R - O método e os critérios da reforma administrativa são discutíveis. Por isso, acho que devia haver um trabalho de todas as forças partidárias para o melhor mapa possível. Temos de reconhecer que em Braga há freguesias com afinidades naturais e históricas, com equipamentos sociais e educativos de referência.

P - Há já assembleias de freguesias do concelho a manifestarem-se contra a reforma.
R - Eu compreendo essas reacções. Até poderão ser legítimas, mas aquilo que é o sentimento dos autarcas pode não traduzir fielmente o sentimento das populações sobre esta matéria. Há pessoas que sentem a agregação de freguesias quase natural. Devemos encontrar uma solução que cumpra o objectivo de reforçar o planeamento integrado do território.

P - Entre os autarcas de freguesia da coligação ‘Juntos por Braga’ há alguma tentativa de entendimento?
R - Há predisposições para.

P - Não teme estar a criar uma guerra com esses autarcas?
R - Eu não vou criar guerra nenhuma. Quem criou esta guerra foi quem incluiu esta reforma no memorando da troika e quem, logo a seguir, a assumiu no seu programa eleitoral. Uma reforma deste tipo não pode ser apenas de um partido, tem de ser consensualizada com a sociedade civil.

P - Acredita que a reforma vai por diante?
R - Acredito.

P - O presidente da Câmara de Braga afirmou que proposta dele são as actuais 62 freguesias...
R - Isso só demonstra o quão ultrapassado está Mesquita Machado nesta matéria.

P - Por que é que o Ricardo Rio não assume um mapa alternativo às 62 freguesias?
R - Um trabalho que eu acho notável nesta matéria é o que está a ser feito na Póvoa de Lanhoso. A Assembleia Municipal constituiu uma comissão com todos os partidos e técnicos da Câmara. Esta reforma tem que ter alguma racionalidade que só se consegue com uma sustentação técnica. Braga devia seguir esse modelo.

P - Acha que é uma redução de 62 para 20 freguesias é aceitável?
R - Não é fugir à questão, mas é muito difícil, de uma forma genérica, avaliar esse tipo de redução. Depende de quais sejam as competências das freguesias, de como elas serão estruturadas no futuro. Não percebo o discurso do presidente da Câmara que admite fusões nas freguesias urbanas e não nas freguesias rurais. Freguesias que servem 10 ou 20 mil eleitores são inúteis?

P - Nas zonas urbanas, as competências das juntas de freguesias diluem-se nas das câmaras.
R - Está a olhar para a realidade de Braga. Defendo há muito o reforço das competências das juntas por delegação da Câmara. A coligação, no mandato anterior, apresentou um conjunto de iniciativas a protocolar voluntariamente entre a Câmara e as juntas, que cumpria um protocolo entre as associações nacionais de freguesias e municípios. Foi reprovado pela maioria socialista.

P - Será um dano para Braga não se avançar com uma comissão eventual para a reforma administrativa?
R - Julgo que sim.

P - Vai imputar essa responsabilidade ao presidente da Câmara?
R - Não tanto a Mesquita Machado. António Braga, que era membro do Governo que assinou o memorando com a troika e que é o presidente da Assembleia Municipal, tem nesta matéria uma responsabilidade particular. António Braga devia ter tido a responsabilidade de dar o seu contributo sobre esta matéria.

P - A bancada do PSD na Assembleia Municipal não vai propor a criação da comissão?
R - Ela já foi proposta pela bancada do CDS/PP.

P - A reforma da administração local aponta para a redução do número de vereadores. Acha possível governar a Câmara de Braga com menos vereadores?
R - Acho.

P - A Câmara de Braga tem vereadores a mais?
R - A questão não é ter vereadores a mais ou a menos. Ter vereadores a mais até poderia potenciar uma maior representatividade. Repare que a mudança da eleição da Câmara a partir da Assembleia Municipal vai potenciar isso. Ninguém se iluda que nas próximas eleições autárquicas será mais difícil qualquer força partidária conseguir uma maioria.

P - Partindo da sua convicção de que vai ganhar as próximas eleições, está ciente de que poderá governar em maioria relativa?
R - Estou. Não vejo nenhum óbice a que a governação da Câmara seja feita numa base minoritária, porque sinto-me capaz de uma postura de diálogo com as outras forças partidárias, o que, de forma indesmentível, Mesquita Machado não tem.

P - A coligação ‘Juntos por Braga’ já manifestou algumas dúvidas e inquietações sobre a organização da Capital Europeia da Juventude. O que é que receia em concreto?
R - Quando a coligação apresentou, no anterior mandato, a ideia da Capital Europeia da Juventude deu algo ao actual executivo municipal para poder dizer que tem alguma realização. Felizmente que assim é. Quando apresentámos essa proposta tínhamos um objectivo claro: usar a Capital Europeia como alavanca reformadora das políticas para a juventude do concelho, que é algo transversal. Nessa matéria, a Capital Europeia da Juventude não está a prometer ser esse elemento de reforma. Em segundo lugar, uma iniciativa como esta teria que ser construída, desde a primeira hora, numa lógica de participação das associações mais representativas do público jovem. Aquilo que nós constatamos no terreno é que várias associações vêm expressar o seu lamento por não serem envolvidas na Capital Europeia da Juventude.

P - O modelo utilizado em Braga, diferente do da Capital Europeia da Cultura em Guimarães, não é garante de um resultado menos polémico no que respeita ao envolvimento das instituições?
R - Não sei. Temos que relativar. Olhando para os orçamentos, uma Capital da Juventude com 1,5 milhões de euros mais as comparticipações de fundos comunitário não tem comparação com uma Capital da Cultura que tem 100 milhões de euros.

P - Com esse orçamento limitado como é que a Capital Europeia da Juventude pode ser o tal motor reformista?
R - Essa reforma das políticas municipais não carece de recursos, carece sim da alteração dos objectivos e das iniciativas. Enquanto evento, a Capital Europeia da Juventude poderia sobreviver com uma capa diferente: com o vereador da Juventude e os seus assessores sem serem presidente e administradores de uma fundação. Não queremos usar estas questões em volta da Capital Europeia da Juventude para denegrir o evento e projectar uma imagem negativa de Braga. Apesar de alguns procedimentos não estarem a ser o mais rigorosos e transparentes, não é isso que pode por em causa o sucesso do evento.

P - Teve até há bem pouco tempo uma colaboração com a organização de Guimarães Capital Europeia da Cultura, situação que provocou polémica nos meios políticos. Voltava a aceitar essa colaboração?
R - Voltava. Aquilo que me levou a ser recrutado pela Fundação Cidade de Guimarães foram os meus atributos profissionais. A polémica política que se instalou só atestou alguma capacidade de influência do PS de Braga sobre o PS do distrito. O incómodo da minha contratação verificou-se mais no PS de Braga do que no de Guimarães.

P - A não renovação da sua assessoria deveu-se a questões políticas?
R - Exclusivamente. Como é óbvio.

P - Quando o contrataram foi para continuar até final de 2012?
R - O contrato inicial era até final de Junho de 2011, embora esta actividade pudesse vir a ser prolongada.

P - O antigo e o novo Hospital de Braga. Qual é o seu projecto para o espaço do antigo hospital que está devoluto, sendo certo que o edifício é da Misericórdia?
R - Precisamente por isso reuni com os responsáveis da Misericórdia. O que me transmitiram é que uma série de oportunidades para o aproveitamento das instalações tinham-se gorado pelo retardar da libertação das mesmas. Esta questão merece o empenho claro da Câmara a dois níveis. Em primeiro lugar, o aproveitamento de parte das instalações por parte da Câmara.

P - Isso traria mais encargos para a Câmara.
R - A renda de todo o hospital era de 25 mil euros...

P - O que é que a Câmara poderia transferir para o antigo hospital?

R - A nossa proposta é a de instalação de um centro cívico, um espaço de acolhimento de associações e colectividades. A criação de uma comissão com as principais instituições da cidade para estudar o aproveitamento das instalações é uma boa ideia. Pelo facto de não encontrarmos ainda uma solução, estamos a assistir as consequências devastadoras no comércio da zona envolvente do antigo hospital. Lamentável foi chegar-se a este ponto.

P - Mas o principal impecilho neste processo foi o próprio Estado ao não informar a tempo a Misericórdia das suas intenções.
R - Uma questão que é objectiva: havia uma informação pública de que o novo hospital abria em Maio de 2011.

P - Quanto ao novo hospital, têm surgido muitas queixas sobre o seu funcionamento. O que deve ser a actuação do município nesta área?
R - O município falhou em vários momentos deste processo, desde logo ao não tomar uma posição mais vigilante sobre a concretização da obra e falha agora ao não diligenciar que o investimento seja rentabilizado da melhor forma. 
Mas não podemos generalizar e pensar que tudo está mal no novo hospital que deu um contributo positivo para a prestação dos cuidados de saúde no concelho.

http://www.correiodominho.pt

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Salvar o fogo!

A actual crise é como um incêndio à nossa porta. Que fazer? Como defendia o poeta Jean Cocteau, temos que salvar o fogo!

Temos que ter a capacidade de olhar para o interior desta situação sem ser de uma forma unívoca.
Ouvimos os economistas. Tenho o maior respeito por esta procura humana de encontrar soluções, que me toca! Mas, não podemos deixar a reflexão só aos economistas, os novos “sacerdotes” ( agora, são eles que falam de milagres e parece que têm a solução dos problemas ).

Concordo que problema nº 1 é o desemprego.

O problema ( da crise ) é quando o nosso sofrimento nos impede de olhar para as nossas alegrias. Quando a carência, as dificuldades, o desânimo, a exaustão não nos permitem ser humanos. Perder a capacidade de olhar para o fundamental. É importante olhar para a crise e perceber como é importante olhar para o que temos. E deixar de demonizar o mundo! Parece que estamos em catarse, com medo de olhar para a pobreza!

Precisamos de profecia!
Precisamos – como na idade Média – de ordens mendicantes, de quem diga: bendita pobreza!
O problema, o modelo subjacente, é vivermos num certo patamar. Demonizar a pobreza. A maior parte da população humana vive uma vida digna de ser vivida com muito menos daquilo que nós desperdiçamos. E a vida continua a ser vida!
Por isso, a reflexão sobre os modelos, sobre a transformação, deve ser alargada. Esta deve ser uma hora de ousadia!

Gás África, voluntariado de estudantes, com bom nível económico: têm o contacto com a pobreza o que os torna melhores pessoas!
A pobreza toca-nos na nossa humanidade! E nós estamos a desperdiçar capital humano!...Os homens nunca viveram todos em inclusão. Nós nunca tivemos uma sociedade justa. Nunca, em nenhum período da história.

Voltar aos anos 80 é uma ilusão. Temos que sonhar com o futuro!
E perceber que a vida é um laboratório de humanidade, onde podemos acolher experiências, gramáticas, sabedorias que nós neste momento desvalorizamos.

Uma sociedade onde o grau de felicidade seja tabelado pelo PIB e pelos rendimentos económicos é uma sociedade que, em termos humanos, é tremendamente deficitária! Precisamos duma reflexão mais vasta.

Precisamos dum humanismo que nos conduza à criatividade. Precisamos de ensaiar.
Somos toda uma geração “à rasca”! Que este seja um momento de parto, o momento inicial. Há grupos, energias que nos podem sinalizar futuros diferentes. Temos que trilhar novos caminhos.


Pe. José Tolentino de Mendonça,
excertos duma entrevista na rtp1, Abril 2011

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

“É absolutamente necessária uma reorganização administrativa do Estado”

A Coligação Juntos por Braga vai lançar, a partir da presente semana, um conjunto de iniciativas com os seus autarcas, especialmente os das freguesias, no sentido de analisar todo o processo, já em curso, relativo à proposta de extinção de Juntas de Freguesia. A notícia foi avançada aos jornalistas pelo líder da Coligação, Ricardo Rio, no decorrer da conferência de imprensa que se seguiu à reunião do executivo camarário.

Questionado sobre o que pensa sobre o processo de reorganização administrativa do país, Ricardo Rio optou por falar em nome pessoal, desde logo fazendo questão de afirmar que “não compreende” como é que “agora tantos autarcas – muitos deles com grandes responsabilidades – do Partido Socialista vêm fazer coro contra a fusão ou extinção de freguesias, quando no próprio programa eleitoral com que o PS se apresentou ao eleitorado nas últimas eleições esta matéria já constava, para já não falar que se trata de um assunto inscrito no memorando da Troika assinado pelo Governo de José Sócrates".

Por isso, desde logo há que realçar – disse Rio – que “esta é uma questão incontornável, com a qual todos teremos de nos debater”. O que não pode acontecer – disse – “é a rejeição pela rejeição, porque isso daria oportunidade, em última instância, a uma decisão por via administrativa, o que poderia ser muito mais prejudicial do que à primeira vista pode parecer, sendo que a responsabilidade do novo mapa autárquico tem necessariamente de passar pelas Assembleias Municipais”.

Salientando que “é absolutamente necessária uma reorganização administrativa do Estado”, Ricardo Rio considera que “uma maior eficiência com esta reorganização” e “uma maior racionalização dos investimentos” pode ser alcançado através desta proposta que está a ser analisada na praça pública, mas já tem dúvidas quanto à “maior racionalização das despesas correntes”, porque a extinção de Juntas de Freguesias significaria “um valor muito residual”, estando provado que “o que move a esmagadora maioria dos autarcas não é o dinheiro”.

http://www.bracara2009.blogspot.com/

A Idade do Armário

«É preciso afastar a ideia de que eles já não gostam de nós»

Em entrevista ao Destak, Penélope Villar, psicóloga e co-autora do livro 'A Idade do Armário', desmistifica esta fase da vida temida por muitos pais. E deixa a garantia: é possível sobreviver à idade do armário. Quanto às muitas outras questões e dúvidas, as respostas estão no livro.


O que é a idade do armário? Não é mesma coisa que adolescência?

A Idade do Armário é a fase de transição entre a puberdade e a entrada na adolescência. É aquela idade em que os filhos já não crianças, mas também ainda não são adolescente

Estão as crianças de hoje a tornar-se adolescentes mais cedo?

É uma pergunta difícil de responder… Acredito que as pressões que os pré-adolescentes de hoje sentem, são as mesmas de sempre – lidar com as suas mudanças corporais, vontade de ser aceite pelos pares, despertar de novas emoções e sentimentos, desejo de “libertação” dos pais e da família. No entanto, a forma como estas pressões se manifestam hoje em dia é seguramente diferente. Hoje a afirmação passa por um conjunto de bens materiais (roupa e vestuário de marca, telemóveis, etc.) e meios (internet, redes sociais, etc.) que são recentes e que colocam novos desafios a pais e filhos. Simultaneamente, tudo isto acontece mais cedo.

Como se explica esta mudança?

Na sociedade de hoje tudo tende a acontecer mais depressa e de forma mais exigente. Se as mudanças físicas da pré-adolescência ocorrem num intervalo de idade que se mantém constante (entre os 10 e os 15 anos sensivelmente), já as mudanças sociais e emocionais tendem a ser antecipadas. Os nossos filhos são expostos cada vez mais cedo ao uso de telemóveis ou da internet, e as suas «teias sociais» são hoje mais influenciadas por modelos apresentados na televisão ou internet.

As mudanças são tantas e complexas, que os pais acabam embalados na montanha russa de emoções. Qual a melhor forma para os pais lidarem com elas: dando muita importância ou tentando não levar tão a sério?

No meio estará a virtude! Talvez ajude lembrar que o papel dos pais é o de orientar os filhos, num percurso que é o deles. Os filhos, e os pré-adolescentes em particular, necessitam de sentir firmeza da parte dos pais – não num sentido de rigidez, mas sim no sentido de perceberem que as regras definidas são para cumprir, que eles têm obrigações e que têm de aprender a regular o seu comportamento à medida que transitam para a idade adulta.

A questão do sexo deve ser uma das que mais assusta os progenitores. Há alguma fórmula que indique quando e como se deve abordar este tema ou os educadores devem agir de acordo com os seus instintos?

Um bom indicador para falarmos de sexo com os nossos filhos é sempre que eles nos procurem para tal. Seguir o ritmo deles é uma boa estratégia , até porque nos permite sentir melhor o que os preocupa. Talvez as suas perguntas sejam esquivas ou indirectas. Ou pelo contrário, talvez nos abordem de forma muito directa e desproporcionada. Acima de tudo, não devemos desperdiçar esta oportunidade em que nos procuram para obter respostas aos seus medos, anseios ou simples curiosidade. O único cuidado a ter, é adequar a linguagem que usamos e a informação transmitida, de modo a que possa ser válida para os nossos filhos. Fugir ou ignorar as perguntas dos filhos sobre sexo, só fará com que eles procurem as respostas noutro lado… e nós não queremos isso, pois não?

No que diz respeito às modas (ao desejo de ter um corte de cabelo diferente, de usar as calças a cair...), elas sempre existiram. Como se deve lidar com elas, sobretudo quando vão um pouco além do que pode ser considerado um limite?

Dentro dos limites do razoável, estes movimentos de emancipação são positivos e desejáveis! E mesmo que nós enquanto pais não entendamos algumas destas modas ou não concordemos totalmente com elas, a verdade é que não há grande mal se deixar o seu filho cortar o cabelo de forma mais esquisita – afinal, se não for agora que vai usar um corte de cabelo estranho, quando será? Acima de tudo, os pais devem tentar estabelecer limites «prévios» daquilo que consideram tolerável ou não, pensando na segurança e bem estar dos seus filhos. Isso ajuda-os a saber o que permitem ou não, poupando-os ao desgaste causado por estes pequenos devaneios, próprios da idade.

Na sociedade em que vivemos, em que a velocidade é uma constante, como é que os pais se podem sentir menos culpados?

De facto, se não reservarmos algum do nosso tempo e disponibilidade para estar ou simplesmente ouvir (com atenção!) os nossos filhos, é normal que nos sintamos mais culpados… A vida hoje em dia é muito exigente em termos de tempo, para nós e, a partir desta idade, também para os nossos filhos. Por isso, nada como estabelecer alguns rituais simples para estarmos em família, junto dos nossos filhos. Criarmos compromisso com os nossos filhos, nem que seja necessário “marcar na agenda” uma hora que vai ser inteiramente reservada para estar com os filhos. A hora do jantar, por exemplo, é uma excelente oportunidade – em vez de jantar qualquer coisa à pressa, em frente à televisão, porque não criar o hábito de sentar todos à mesa e dar espaço para que cada um fale um pouco do seu dia?

Os castigos funcionam nesta fase da vida?

Desde que sejam justos e adequados, sim. Os pré-adolescentes ainda precisam de regulação e os pais devem ser claros e firmes no estabelecimentos de regras e limites. Assim, se os pré-adolescentes ultrapassam os limites ou quebram as regras que estão definidas, devem saber que isso implica uma consequência – um castigo. Estabelecer regras que são sistematicamente quebradas ou prometer castigos que depois não são cumpridos, é um erro grave que os pais devem evitar.

O que é que os levou a escrever este livro e sobretudo a esquematizar, da forma como o fizeram, os problemas?

Este livro nasceu da experiência que temos na nossa prática diária. Temos o privilégio de lidar com pais que nos procuram para partilhar as suas dúvidas e dificuldades, o que nos levou a estruturar este livro de forma a guiar os pais para que encontrem dentro de si respostas concretas a problemas reais. Não queríamos um livro teórico ou instrutivo que “ensinasse os pais a serem perfeitos”.

Que conselho daria aos pais que se preparam para enfrentar esta idade do armário?

Acreditamos que todos os pais querem o melhor para os seus filhos, apesar de por vezes não saberem como o fazer. Por isso, há que respirar fundo - esta é apenas mais uma fase de transição, a que se vai sobreviver, como sobreviveram os nossos pais. Talvez o melhor conselho seja afastarmos a ideia de que eles já não gostam de nós, só porque estão a tornar-se adultos e com vontades próprias. Devemos mostrar sempre o nosso amor pelos nossos filhos, mesmo quando parece que eles não «ligam» a isso…

Carla Marina Mendes
cmendes@destak.pt, 13 | 10 | 2011

A esquerda francesa

Ciclo, reciclo... ou novo ciclo?

Vaticinei há cerca de quinze dias que, com a vitória na Dinamarca da coligação de esquerda liderada pelos socialistas, se poderia estar a esboçar um novo ciclo político na União Europeia, e que a previsível próxima vitória da direita em Espanha poderá marcar o crepúsculo de uma década de indiscutível predomínio ideológico e político.

A primeira volta das "primárias" francesas, no último fim-de-semana, em que os socialistas foram chamados a escolher o seu candidato às presidenciais, veio reforçar esta impressão. Em França tudo parece agora encaminhar-se para uma possível (ainda que muito difícil) vitória da esquerda nas presidenciais francesas de Abril do próximo ano.

Com efeito, vença quem vencer estas "primárias", François Hollande ou Martine Aubry - a 2.ª volta será no próximo domingo -, a decisão final colocará frente a Nicolas Sarkozy alguém que todas as sondagens dão, neste momento, como podendo ganhar as próximas presidenciais francesas. A que se poderá seguir, também a julgar pelas sondagens, a dos socialistas alemães, o que - sobretudo num quadro em que Obama consiga a reeleição - alterará profundamente a situação política que hoje conhecemos.

Os socialistas franceses conseguiram nestas inéditas "primárias" uma mobilização extraordinária: um partido de cerca de 120 mil militantes conseguiu implicar na escolha do seu candidato presidencial dois milhões e meio de franceses, ou seja, cerca de vinte vezes mais franceses do que os militantes que tem.

Isto é impressionante, mas é sobretudo um grande sinal para a esquerda francesa, para a qual se começa a desenhar uma nova oportunidade histórica de grande significado nacional e europeu. Caíram assim por terra os palpites de tantos analistas e comentadores sobre a indiferença dos franceses com umas "primárias" tipicamente americanas, sobre os efeitos do caso Strauss-Kahn, sobre a falta de carisma dos candidatos, etc., numa lenga-lenga que é por demais conhecida.

O facto é que os socialistas franceses conseguiram inovar e motivar politicamente os franceses. Para isso muito contribuíram três factores. Em primeiro lugar, a desastrosa condução política de Nicolas Sarkozy, perdido entre um voluntarismo maníaco e uma conjuntura inesperada. (O slogan central da sua campanha de 2007 tinha sido "trabalhar mais para ganhar mais"!...) Depois, a crise internacional e europeia, cujos efeitos têm ameaçado cada vez mais a França e a sua notação financeira "triplo A". Por fim, a capacidade de abertura, de autocrítica e de formulação de novas propostas, de que os socialistas franceses deram prova nestes anos de oposição.

A liderança de Martine Aubry foi, neste ponto, decisiva. Política muito experiente (n.º 2 no Governo de Lionel Jospin, deputada e presidente da Câmara de Lille), Aubry apostou tudo, desde o primeiro minuto da sua liderança, por um lado na compreensão das razões porque a esquerda tem perdido a batalha das ideias; e, por outro lado, na convicção de que só um trabalho sério no plano das ideias poderia conduzir a uma nova proposta global capaz de mobilizar a França.

Como outros partidos socialistas e sociais-democratas que decidiram cortar com os impasses que se foram acumulando no decorrer da última década, também Martine Aubry adoptou o ponto de vista do futuro, abrindo o partido à discussão com os cidadãos e à dinâmica dos "laboratórios de ideias", onde pessoas das mais diversas proveniências colaboram com o objectivo de tornar mais compreensível o mundo em que vivemos, e sobretudo mais claro o mundo em que queremos viver, procurando assim dar um rumo mais definido e estimulante à acção política.

Nada disto se consegue sem abordar de frente e discutir com abertura a actual desordem do mundo, a crítica do capitalismo, as consequências da globalização, o papel do Estado e a revitalização da democracia, os retrocessos da igualdade e a teia da economia da dívida.

Como se sabe melhor do que se pratica, não é com ideias velhas que se ultrapassam os impasses e as crises. É com a coragem das ideias que, mais do que proclamarem-se novas, consigam provar que efectivamente o são, fazendo-o através do debate, da deliberação e da eficácia.

Não é reciclando ideias gastas que se conseguem abrir novos ciclos - é esta, para já, a principal lição a tirar das primárias da esquerda francesa.

por MANUEL MARIA CARRILHO,
http://www.dn.pt/inicio/opiniao