terça-feira, 31 de maio de 2011

Grande entrevista...

Não quer entrar numa "bebedeira de sondagens", mas as sondagens não o largam. Durante a curta viagem entre Guarda e Aveiro foi um Portas sorridente que recebeu duas mensagens e um telefonema a avisá-lo dos novos números que favorecem o CDS-PP. É cauteloso a estabelecer metas eleitorais e também ao afastar uma coligação com o PS, mesmo sem José Sócrates. E deixa um aviso: uma maioria de estabilidade não tem necessariamente de ser uma coligação de governo. Pode ser um acordo parlamentar

Como é que está a correr a campanha?

Fisicamente posso estar um bocado cansado, animicamente estou cheio de energia. Estou a fazer uma das melhores campanhas do CDS de sempre.

Ontem apelou à não crispação com o PS. Está já a pensar numa futura coligação?

Fui muito claro no que disse: que me preocupava com a agressividade do PS para com o PSD, porque quem vai a juízo nestas eleições é o PS. Também me preocupava a agressividade do PSD para com o CDS. É fazer de conta que o CDS não é importante para a constituição de uma maioria absoluta e de mudança. As coisas são muito claras: o CDS e o PSD têm de gerar uma maioria de mudança, portanto não vale a pena perderem exageradamente tempo um com o outro. Repare: eu só sou forçado a colocar os pontos nos is porque o PSD dia após dia parece empenhado em disputar mais votos connosco do que com os socialistas. E depois disso - porque evidentemente o PS vai perder as eleições como perdeu na Irlanda e na Grécia e como vai perder o primeiro-ministro espanhol - CDS e PSD têm de ter a noção que vai ser preciso fazer uma revisão constitucional. E haverá leis reforçadas para votar, que só podem ser votadas por dois terços. Portanto, o compromisso é obrigatório, não tem nada a ver com governo. Para cumprir o acordo de ajuda externa, a meu ver é preciso fazer uma revisão constitucional em alguns pontos e é necessário votar leis que implicam uma maioria de dois terços. E para mudar efectivamente o país em certas áreas, como a justiça e o endividamento, é preciso fazer uma revisão da Constituição. Isto implica CDS, PSD e PS.

Uma coligação com o PS está completamente fora de questão?

Fui o primeiro a dizer a José Sócrates "saia!". Sempre defendi uma maioria de mudança. Sempre defendi um governo forte. E sempre expliquei que para haver um governo forte, tem que ser uma maioria entre o CDS e o PSD. E a maioria só é de mudança se o CDS for muito forte. É evidente que, se calhar, algumas pessoas do PSD gostariam que estivesse um trouxa no CDS, mas não está.

E essa maioria afasta o PS mesmo sem Sócrates?

É necessário manter uma capacidade negocial para efeitos de uma revisão constitucional e as leis reforçadas. Objectivamente, os três partidos, com responsabilidades completamente diferentes, deram o apoio ao acordo de ajuda externa. As pessoas assim como querem separação de águas entre governo e oposição, querem que haja um mínimo de cultura de compromisso no estado em que o país se encontra.




Está a admitir que com o PS existirão apenas entendimentos pontuais ?

Acabei de lhe dar dois exemplos. Revisão Constitucional e leis reforçadas. Como há várias dessas matérias que entram no espaço público por via do acordo de ajuda externa, é inexorável que o comportamento dos partidos tenha envergadura e a sua responsabilidade esteja à altura disso porque Portugal não tem mais outros 78 mil milhões de euros para sair da situação em que está. Este ponto é para mim crucial.

O CDS quer ser forte para conseguir impor condições quando formar governo?

Já fiz uma coligação em que um tinha 40% e o outro tinha 8% e sei quais são os limites de ter apenas 8%. Houve coisas que correram bem, e coisas que correram mal. Aprendo com a experiência e a verdade é que o povo português penalizou os partidos dessa coligação (PSD/CDS). O juízo democrático está feito. Há duas preocupações estruturantes: saber se uma coligação em que um tem 40% e o outro tem 8% não permite, por exemplo, continuar a fiscalizar aquilo que eu acho que é defeito comum ao PS e ao PSD, que é o clientelismo. O PS e o PSD não são partidos iguais. Mas têm defeitos parecidos. E um desses defeitos é a enorme dependência das clientelas políticas. Se o próximo governo substituir os boys e as girls do PS por boys e girls do PSD ou de qualquer natureza partidária estaria a minar a sua possibilidade de gerar confiança, porque as pessoas não toleram mais isso. É preciso descolonizar o Estado dos aparelhos partidários.

O CDS vai fazer de polícia nesse sentido?

A frase é sua. Mas é fiscalizar, claro. É travar isso porque essa é uma questão central e vai-se ver logo nas primeiras semanas. Outra questão importante que o CDS nunca negligenciou é a questão social. É manifesto que o PSD tem um discurso excessivamente liberal. Há uma sucessão de tomadas de posição, mesmo que depois haja recuos e contradições por parte do PSD, em que a questão social parece de facto ter sido passada para segundo plano, tal como no PS. José Sócrates tem escassíssima autoridade para falar do Estado Social depois do que fez ao Estado Social.

O PSD disse que só queria dez ministérios. Há alguma margem para o CDS escolher pastas?

Não faço governos assim. A construção de uma maioria de mudança pode ser feita de duas formas: uma coligação ou um acordo parlamentar. Ambas dão estabilidade. Avaliarei a 5 de de Junho qual é a força que o povo me dá. Quanto mais força me der, mais está a dizer que devemos assumir responsabilidades directas. E tenho de estar convencido da solidez da equipa e do realismo do programa. São estes os três critérios que vou usar para avaliar qual será posição depois de 5 de Junho.

Mas admite não formar governo com o PSD?

Não. Já disse qual é a maioria que se vai formar: PSD, desculpe, CDS com PSD. Há duas formas de o fazer e ambas dão estabilidade. Mas para ver se será de uma forma ou outra vou desde logo saber que força o povo me dá. O próximo governo não pode falhar e não pode ser aparelhista. Tem de ser um governo dos melhores entre os melhores, sejam dos partidos ou dos independentes porque os partidos não têm o exclusivo da gente boa. E portanto, haverá uma de duas formas de construir estabilidade. Numa coligação em que um tem 8% e outro tem 40% eu não direi que o partido que tem oito é um adorno, mas tem pouca influência. Acho que Portugal precisa que o CDS tenha forte influência na direcção do país. E isso implica obviamente negociar, debater, discutir com respeito institucional, não na praça pública. Eu não posso dar respostas sobre construções de governo antes de o povo votar e depois na praça pública.

Gostava de ver Bagão Félix numa pasta mais social?

Não posso dar respostas sobre a formação do governo ou uma maioria. Toda a gente sabe que Bagão Félix inspira a política social do CDS. Quem é o António Bagão Félix do PSD? Quem é o rosto, a cara, a credibilidade e a autoridade do PSD na área social? Procura, procura, procura e não sei se descobre. É que as coisas não acontecem por acaso. A mesma coisa quanto à segurança. Toda a gente sabe que o CDS tem manifestamente o deputado mais informado e consistente na área da segurança. Chama-se Nuno Magalhães. Foi um grande secretário de Estado, um grande vice do grupo parlamentar. É respeitado dentro e fora do partido. Quem é a pessoa no PSD para a área da segurança? Estas coisas não acontecem por acaso

Passos Coelho não tem experiência governativa, isso pode atrapalhar?

Aí tem uma matéria onde os partidos são complementares. O CDS tem experiência governativa, tirou lições disso e numa altura em que o próximo governo não pode falhar acho que essa experiência é muito importante e o facto de termos tirado lições dessa experiencia.

E Passos Coelho? O que acha dele?

Nós estamos a concorrer. Só posso dizer que o conheço há bastantes anos e tenho uma relação franca com ele. Ao longo do tempo conversámos algumas vezes - nomeadamente quando o tentei convencer a fazer uma aliança pré-eleitoral - e essas conversas nunca foram conhecidas o que significa um princípio de confiança.

Qual a maior diferença e a maior semelhança entre os dois?

Eu tenho experiência de governo, ele não. Ele é liberal eu sou mais social. Ele dirige um partido muito dependente do Estado e eu dirijo um partido que é mais independente do Estado. Eu estou à direita dele em questões como a segurança e a justiça. E estou à esquerda dele em questões sociais. Eu dou mais valor à agricultura. Ele é mais novo que eu (risos). E ele sabe cantar e eu não (risos).

14% é a meta do CDS-PP?

Não é uma meta. Eu estou a fazer uma construção aritmética. Há um enorme risco. Se as pessoas do PSD continuarem a pedir para os leitores não votarem no CDS-PP e se algumas fossem influenciadas por esse argumento, o dr. Passos Coelho arriscava-se no dia 6 de Junho a ficar em primeiro lugar como tem pedido, mas a ter uma maioria de esquerda no Parlamento. É essencial que o CDS-PP consiga eleger novos deputados em Lisboa, Porto, Aveiro, Braga, Setúbal, consiga reforçar a sua presença parlamentar em Santarém, Coimbra, Faro, na Madeira, em Viana. Consiga eleger novos deputados nos Açores, na Guarda, em Vila Real. Estes deputados são todos tirados ao Partido Socialista. E não são assim tão poucos, são muitos. Se nós não elegermos, quem elege é o PS. Não se pode ceder a um instinto meramente partidário. O que está em causa é o país. [Portas olha para uma mensagem com os resultados de uma nova sondagem: ''Tenho 12,7%. Eu tinha 11,8% ou 11,2% acho eu... quer dizer que fui buscar votos ao PS. O PSD também subiu. Eu estou tão feliz'']

Eu acho que todos nós umas vezes acertamos e outras vezes erramos. Eu dos erros que cometi tirei lições, com as causas que defendi consegui avançar, acho que me rodeei de gente com qualidade, eu dirigi e sei dirigir. Os meus pais provavelmente dir-me-iam que é o meu melhor momento! A mim não me fica bem dizer isso e até não seria humilde, mas que é um momento de maturidade disso eu não tenho dúvida. É a campanha que eu estou a fazer com a maior maturidade.

Está a jogar pelo seguro?

Em que sentido? A segurança não é um ponto mau...

A pouca crispação com PS e PSD...

São coisas diferentes. Já reparou que os verbos que eu uso com o PSD são diferentes daqueles que eu uso com o PS? Tenho muito cuidado na escolha das palavras. Não me quero arrepender de nenhuma. Eu posso dizer que fico preocupado, tenho perplexidades, que tenho um pensamento diferente, que a minha atitude é outra relativamente a matérias do PSD. Mas quem vai a juízo nestas eleições é o governo do PS. E o governo tem imensas coisas inexplicáveis a explicar. Nomeadamente nunca ter percebido a questão da dívida contra todos os avisos. Como é que é possível o governo ter passado a dívida pública de 82 mil milhões para 270 mil milhões de euros e não ter percebido que isso nos atirava para um precipício? É um mistério insondável. Para mim tão responsável como o primeiro-ministro é o ministro das Finanças porque se o primeiro-ministro tem aquela inclinação para acreditar em fantasias, o ministro das Finanças, que é economista de raiz, tinha a obrigação de dizer pare, escute e olhe. E não o fez.

Disse que apresentaria a candidatura a primeiro-ministro. Já falta pouco para as eleições...

Ainda estamos a uns dias do fim da campanha e eu responderei a essa pergunta. Eu não tenho dúvidas que há imensa gente que tem a noção de que não é possível absolver José Sócrates. Qualquer voto nele corresponde a uma absolvição. Agora, ele trouxe-nos para esta situação. E há imensa gente que não se sente segura, que não se sente confiante, não se sente tranquila com a inconstância, com o excesso de liberalismo que por vezes surge do lado do PSD. E isso põe as atenções muito mais no CDS-PP, porque o CDS-PP construiu de facto ao longo do tempo uma boa equipa. Eu tenho defeitos, mas há um que eu não tenho. Eu quando vejo uma pessoa com qualidade, luto por ela e puxo por ela. E não tenho problema nenhum de trabalhar com pessoas que sejam tão ou mais capazes do que eu acho que sou. E, aliás, acho que isto é uma definição de liderança. Eu lembro-me sempre que o Aznar trabalhava com pessoas que eram mais carismáticas do que ele e nunca teve nenhum problema com isso. A autoridade não vem de uma pessoa andar sempre a dizer que é o chefe, a autoridade vem do respeito que as pessoas conseguem produzir.

Mas não vai fazer o anúncio formal?

Eu estou licenciado em realismo. Objectivamente isso tem de parecer às pessoas um facto bom. Não pode parecer um acto de soberba da minha parte porque não é. Se eu estivesse satisfeito com a escolha tradicional para primeiro-ministro, provavelmente a questão nem se punha. Há imensa gente da área do PS que está tentada a votar CDS. Eu tenho que os tranquilizar, de facto nós somos uma garantia de moderação, de facto nós damos a garantia de que há no governo ou na maioria quem coloque a questão social como prioritária. A imagem corresponde à realidade: o CDS-PP estuda tecnicamente os assuntos.

Nas feiras às vezes ouve comentários mais críticos...

Há sempre um submarino...

Mas como se sente?

Eu dou atenção a quem me critica. Aquela coisa que o primeiro-ministro faz, de ir rodeado de seguranças e assessores, isolam e não protegem... Eu vi na Ovibeja e não queria acreditar. Não havia um único agricultor que conseguisse chegar ao PM. Aquilo era uma guarda pretoriana.

Quando se faz uma eleição popular é preciso estar preparado para ouvir do bom, do melhor e também coisas desagradáveis. Mas isso faz parte da vida. Já houve campanhas em que ouvi coisas muito mais desagradáveis. Garanto-lhe que nesta tenho ouvido coisas muito mais extraordinárias. Eu não tenho uma personalidade que deixe as pessoas indiferentes. Ou se apoia ou não se apoia. Não sou uma personalidade redonda, digamos assim.

http://www.ionline.pt/conteudo/127012-paulo-portas-os-meus-pais-diriam-que-este-e-o-meu-melhor-momento

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