sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Senado francês veta legalização da eutanásia

Após semanas de intensos debates e mobilização pela vida

PARIS, quinta-feira, 27 de janeiro de 2011 (ZENIT.org) - Após uma longa reunião, que durou até a noite da terça-feira, 25 de janeiro, o Senado francês decidiu votar contra as três propostas de legalização da eutanásia no país, apresentadas por vários membros, tanto do governo como da oposição.

Assim terminou um intenso debate na sociedade francesa, entre os partidários da eutanásia - a maioria representada pela Associação para o Direito de Morrer com Dignidade, Jean-Luc Romero, e pelos progressistas de esquerda - e as associações pró-vida, associações médicas (o próprio colégio médico) e de cuidados paliativos, além de instituições religiosas e civis.

O debate chegou a provocar divisões dentro dos próprios partidos, especialmente dentro da UMP de Nicolas Sarkozy.

Poucas horas antes da votação, o próprio primeiro-ministro francês, François Fillon, opôs-se a estes projetos, descrevendo-os como "precipitados" e alegando que "não oferecem as garantias necessárias", enquanto apostava em "desenvolver os cuidados paliativos e rejeitar a obstinação terapêutica".

Na manhã da votação, a Associação Alliance pour les Droits de la Vie - que havia recolhido cerca de 55.000 assinaturas no site www.fautpaspousser.com - organizou uma manifestação em frente dos portões do Senado.

O arcebispo de Paris, cardeal André Vingt-Trois, que rejeitou, em nome da Igreja Católica, o projeto de lei várias vezes, elogiou a decisão do Senado, convidando seu país a mostrar "uma visão elevada do homem".

"A cultura de nosso país, sua história, sua responsabilidade perante a Europa e o resto do mundo, assim como sua fragilidade actual, comprometem-nos a demonstrar a ambição ética, com coragem e entusiasmo."

Seria irrealista, acrescentou o cardeal Vingt-Trois, "confundir mínimo denominador comum ético com coesão social. Só uma visão alta do homem pode construir a paz. O consenso que pretende basear-se na ética mínima será, de fato, uma caricatura sem futuro".

12 comentários:

Paulo Novais disse...

Pois Nuno.
Nalgumas coisas temos ideias totalmente opostas.
Esta é uma das que eu fico feliz por pensar de forma diferente da tua.
Concordo totalmente com o denominado "Testamento Vital" que prevê o direito das pessoas em determinadas condições de saúde prescindirem de qualquer forma de tratamento ou ressuscitação se estiverem a morrer e a sua vida depender deles.
Quanto à eutanásia, embora seja mais reservado, não é algo que também não considero pensar.

Já te disse noutras vezes que falamos sobre este tema, que viver em determinadas condições não é nem digno nem humano. Nem sequer chamo viver a isso, pois para mim a vida é algo que devo celebrar todos os dias.
E ninguém celebra o facto de ter um cancro terminal e ter que exceder as doses de morfina aconselhadas para sentir, não melhoras, mas algum conforto.

Isso não é viver e as pessoas merecem o "direito" de poder decidir quando não querem continuar nestas condições. Apenas elas, e tão só elas. Ninguém tem o direito de decidir por um doente terminal.

É nestas coisas que eu gostava de ver o governo apostar e teimar. E no agilamento da adopção de crianças.
Não no casamento homossexual ou na liberalização do aborto.

Nuno disse...

"Aqueles que têm uma vida deficiente ou enfraquecida reclamam um respeito especial. As pessoas doentes ou deficientes devem ser amparadas, para que possam levar uma vida tão normal quanto possível.

"Quaisquer que sejam os motivos e os meios, a eutanásia directa consiste em pôr fim à vida de pessoas deficientes, doentes ou moribundas. É moralmente inaceitável.

"Assim, uma acção ou uma omissão que, de per si ou na intenção, cause a morte com o fim de suprimir o sofrimento, constitui um assassínio gravemente contrário à dignidade da pessoa humana e ao respeito do Deus vivo, seu Criador.

"A cessação de tratamentos médicos onerosos, perigosos, extraordinários ou desproporcionados aos resultados esperados, pode ser legítima. É a rejeição do «encarniçamento terapêutico». Não que assim se pretenda dar a morte; simplesmente se aceita o facto de a não poder impedir. As decisões devem ser tomadas pelo paciente se para isso tiver competência e capacidade; de contrário, por quem para tal tenha direitos legais, respeitando sempre a vontade razoável e os interesses legítimos do paciente.

"Mesmo que a morte seja considerada iminente, os cuidados habitualmente devidos a uma pessoa doente não podem ser legitimamente interrompidos. O uso dos analgésicos para aliviar os sofrimentos do moribundo, mesmo correndo-se o risco de abreviar os seus dias, pode ser moralmente conforme com a dignidade humana, se a morte não for querida, nem como fim nem como meio, mas somente prevista e tolerada como inevitável. Os cuidados paliativos constituem uma forma excepcional da caridade desinteressada; a esse título, devem ser encorajados."

http://www.vatican.va/archive/cathechism_po/index_new/p3s2cap2_2196-2557_po.html

Paulo Novais disse...

Oh Nuno.
Bolas. Já tivemos esta discussão e os teus argumentos continuam os mesmos. Pior, são os da igreja.
Respeito muito as tuas crenças, admiro-as até. Principalmente a forma como sei que reges a tua vida respeitando essas crenças.

Mas porra, vires para aqui com esta treta da eutanásia ou testamento vital com estes argumentos fálicos da igreja, tem lá paciência.

Já te disse em relação a a esta afirmação "...A cessação de tratamentos médicos onerosos, perigosos, extraordinários ou desproporcionados aos resultados esperados, pode ser legítima." é mito ambígua e permite que à sua sombra a igreja se possa esconder dizendo "NIM".

E acrescentam "...É a rejeição do «encarniçamento terapêutico». Não que assim se pretenda dar a morte; simplesmente se aceita o facto de a não poder impedir. As decisões devem ser tomadas pelo paciente se para isso tiver competência e capacidade; de contrário, por quem para tal tenha direitos legais, respeitando sempre a vontade razoável e os interesses legítimos do paciente.".
Ok. isto que dizer o quê, se no paragrafo anterior a ambiguidade do entendimento é mais do que muita. Por exemplo.
O que conta mais, "tratamentos médicos onerosos" ou antes "tratamentos médicos perigosos" ou ainda "tratamentos médicos extraordinários ou despropositados aos resultados" ou todas as 3 e ainda mais?

E se nenhum se verificar, mas o resultado fatal do paciente seja uma morte lenta, cheia de dor e sofrimento, para si e para os que o rodeiam?

Será isto enquadrado na parte oneroso ou antes no encarniçamento do tratamento?

Ou terá uma pessoa nestas circunstâncias de acabar a sua existência, não vida pois ninguém merece viver assim, a sofrer, só porque o seu tratamento nem é caro, ou perigoso e não chegará justificar como extraordinário ou despropositado.

O que me citas aqui é nada. Pois, que eu saiba, não é posto em prática pela igreja ou aceite onde seja. Que eu saiba, claro.

Nuno disse...

"Wojtyla era um gigante da fé e derrubava muros. Neste nosso mundo do activismo, do jovem e do belo, a mensagem do sofrimento e da paixão tem um valor especial".

Foi esta resposta (aqui reproduz-se apenas um excerto) do Papa Bento XVI à pergunta sobre o sofrimento humano que lhe foi colocada à pergunta sobre o sofrimento humano que lhe foi colocada por Willy Fusano, 42 anos, sacerdote atingido por esclerose múltipla e confinado a uma cadeira de rodas.

Paulo Novais disse...

Nuno

Não me venhas com argumentos destes, por favor.
Admiro imenso o papa João Paulo II e ressalvo a sua capacidade de sofrimento. Mas isso tem que ser uma opção e não uma imposição.
Era o que faltava, agora a igreja decidir, baseada no argumento de que Cristo sofreu pelos homens até à morte, ou que o padre isto e o papa aquilo, que toda a gente também tem que aguentar e calar.
E os ateus? Os agnósticos? Não são gente por não serem católicos?
Então Nuno. Tu consegues argumentar melhor do que isso.

Nuno disse...

Caro Paulo,

parece-me que aqui - na questão da eutanásia - se confunde morte com sofrimento. Mas são duas coisas diferentes.

Pode-se morrer sem sofrimento (a dormir, numa operação, etc.). E pode-se viver 100 anos a sofrer.

A morte (como na eutanásia) não é solução para o sofrimento. E, na minha modesta opinião, não temos o direito de matar ninguém (nem a nós próprios!...). Não nos compete a nós.

Naturalmente que não devemos procurar o sofrimento, seríamos masoquistas. Mas não devemos ignorá-lo.

Devemos enfrentá-lo (como Wojtyla) e tentar compreender porquê. Pois o sofrimento é um grande mistério.

Nuno disse...

Quanto à Santa Madre Igreja - que tu, Paulo, aqui e ali quase insultas... - ela não impõe, propõe.

Antes de mais, respeita a liberdade dos filhos de Deus. Como toda a gente sabe, qualquer pessoa é livre de virar as costas à Igreja e seguir o seu caminho. E isso é respeitado.

Paulo Novais disse...

Nuno
Eu não me sabia que agora discordar e contestar era considerado insulto.
A igreja não está acima da contestação, caro Nuno. Caso contrário ainda tínhamos a "santa" inquisição.
E não me venhas com vernáculos sobre a Igreja, e como ela é superior a mim ao ponto de a minha contestação, por forte que seja, ser considerada um "quase", "aqui e ali" insulto.
Não te esqueças que a mesma igreja que defende a vida, tem na sua consciência o peso de mortes e mortes ao longo de séculos. E o homem, nós, soubemos encaixar isso nos defeitos da igreja que é feita por homens. E os homens, erram. E de que maneira.

Eu, nós, todos somos a igreja. Sem pessoas a igreja não é nada.

E agora voltamos ao mesmo. Porque é que nós não devemos ser donos de nós próprios.
E tu dizes que eu confundo morte com sofrimento? Mas diz-me lá. A eutanásia não é para acabar com um sofrimento devido ao seu estado precário de saúde, desejam dar um fim ao seu sofrimento antecipando a morte?
Então não são a mesma coisa. E não deve ter uma pessoa nada a dizer sobre a sua vida, o seu corpo, o seu sofrimento!

E quando dizes que não temos o direito de matar ninguém, concordo contigo. Porque não és tu que matas, nem eu, nem a igreja.
Porque só próprio pode decidir sobre o seu destino. Por isso ele é que termina com a sua existência. Não tu, nem eu, nem ninguém.
E quando dizes que devemos enfrentar o sofrimento como fez João Paulo II, que eu muito admiro e considero, e digo-te isto:
Se tu podes decidir em consciência e de livre vontade assumir o teu sofrimento, porque é que eu não posso com a mesma liberdade decidir o oposto?
A liberdade é uma porra, não é Nuno?

Paulo Novais disse...

Esta parte eu tinha que separar.
Isto porque, Nuno, agora digo eu, "quase" me insultaste a mim.
E digo quase, porque te conheço, porque tenho muita consideração por ti e porque sei que o que vou citar a seguir foi dito sem pensares.

Dizes:
«Antes de mais, respeita a liberdade dos filhos de Deus. Como toda a gente sabe, qualquer pessoa é livre de virar as costas à Igreja e seguir o seu caminho. E isso é respeitado.»

Porque carga de água te achas mais filho de Deus do que eu Nuno?
Com que autoridade e com que bases achas que és filho de Deus e que eu devo deixar-vos em paz e seguir o meu caminho longe da igreja?

Eu não quero abandonar a igreja Nuno. Não sou um desistente.
Eu acho que a igreja erra, que a igreja até peca. E quero que a igreja mude. Como milhares de pessoas fizeram ao longo de séculos e fizeram da igreja aquilo que ela é hoje. E farão com que cada vez se aproxime mais do homem e o homem da igreja.
E então, quando isso acontecer, como acontece todos os dias, eu lembro-te a ti Nuno, a recomendações que fizeste a mim.

E como te respeito muito, vou terminar por aqui e deixar-te reflectir.

Nuno disse...

Cruzes!

Caro Paulo: eu não te quis ofender.

E não me acho mais filho de Deus do que tu (nem nunca pensei em tal). Nem quero que me deixes em paz!...

(Haverá aqui uma colecção de mal entendidos ou são as dificuldades de comunicar por blog?...)

Nuno disse...

Quanto à liberdade...

Gosto muito!

(Faço só um pequeno parentesis para dizer que a liberdade nos permite fazer coisas muito boas e coisas muito más...).

Paulo Novais disse...

Eu disse que não tomei por ofensa. Não vindo de ti.

Mas que esta discussão está fixe, está.

Tudo na vida acarreta "coisas boas e coisas más". Viver é um risco. Até uma coisa boa pode tornar-se numa coisa má.

Temos que tentar viver com estas "nuances". Mas sempre tentando que a nossa liberdade seja utilizada o melhor que podemos e sabemos.

Nuno. Eu acho que a igreja errou bastante ao longos dos séculos. E acho que existem neste momento vários aspectos que afastam e impedem muitos de se identificar com a igreja.
Mas também não digo que estes é que devem impor as suas ideias.
Acho que devemos discutir todas. E molda-las por forma a tentar servir Deus, a igreja e encaixar o homem.
Eu também não concordo com o casamento gay. Nem com o aborto como um puro meio anticoncepcional.
Mas respeito todos os católicos, que os há e muitos, que concordam.

Lembro-te Nuno, que ainda recentemente o papa Benmto XVI anunciou que a igreja tolerava o uso de preservativo para evitar o contágio de doenças como a Sida. Quem diria. E a justiça que se fez ao homem.

Eu, Nuno, não imagino ninguém a querer morrer em sofrimento com provavelmente João Paulo II morreu. E viveu.
Eu tenho 47 anos Nuno. Nestes anos tivemos os papas Pio XII, João XXIII, Paulo VI, João Paulo I, João Paulo II e agora Bento XVI. E o único que até agora me marcou foi João Paulo II. Respeito do meu coração a decisão dele ao morrer em sofrimento. Porque era fácil de ver, que os últimos anos dos seu pontificado forma dolorosos, penosos mesmo.
Da mesma forma respeito Ramón Sanpedro.
Não vou avaliar o que ele fez e o que eu faria, porque ninguém poderá ter noção do que Ramón Sampedro e outros passarão nestas condições.
Eu não chamo a isto viver, chamo a isto existir.
Porque existir nestas circunstâncias não considero que seja viver. Logo, acaba-se com a existência, pois a vida acabou no momento em que se é acometido pela razão que leva uma pessoa a querer a eutanásia.
Abraço, Nuno.