terça-feira, 25 de janeiro de 2011

O velho leão

1. As eleições presidenciais decorreram sem chama e perante um certo desinteresse dos portugueses. A enorme abstenção de 52,4% aí está para o demonstrar. Os resultados foram os esperados, embora com algumas surpresas. Os debates não trouxeram ideias novas quanto aos problemas que mais interessam os portugueses: como viver a crise global que nos afecta - que está a provocar o desespero em milhares de famílias - e, principalmente, como sair dela.

Como se sabe, estive, voluntariamente, silencioso durante todo o processo eleitoral. Quando o PS resolveu apoiar o candidato que já tinha sido escolhido pelo Bloco de Esquerda, disse - e escrevi - que considerava isso um erro de Sócrates, grave, sobretudo, para o futuro do PS, visto que ia dividi-lo, como aconteceu. Não o disse por ressentimento, como alguns comentadores afirmaram. Mas tão-só em defesa do partido de que fui um dos fundadores. Por essa mesma razão, fiquei calado e não apoiei nenhum candidato. (...)

Numa entrevista em que me interrogaram sobre se, desta vez, iria votar Cavaco Silva, afirmei, discretamente, para desfazer equívocos, que "nunca votaria em Cavaco Silva". E agora acrescento: por razões político-ideológicas e não pessoais.

Terminado o acto eleitoral, devo felicitar o candidato, como fiz, aliás, há cinco anos, como candidato derrotado. Trata-se de um ritual democrático, que deve ser respeitado, porque em democracia, os políticos, dos diversos partidos e os independentes, não se consideram inimigos, mas tão-só adversários ocasionais.

Estranho e lamento que o candidato Cavaco Silva não o tenha feito, no passado domingo, em relação aos seus adversários. Como aliás lamento os dois discursos que proferiu no momento da vitória. Em lugar de ser generoso e magnânimo para com os vencidos, foi rancoroso. O que, além de lhe ficar mal, quanto a mim, representa um erro político grave que divide Portugal precisamente quando mais o devia unir.

A verdade é que as últimas eleições mostram que o nosso país está mais dividido do que nunca. E, além disso, desorientado. Por isso, o Presidente ora reeleito deveria ter feito um discurso positivo, voltado para o futuro, e não um discurso que divide mais os portugueses, com a agravante de que, feitas bem as contas ao volume da abstenção, a metade que votou nele está longe de ser maioritária...

Nesse aspecto, o líder do PSD, Pedro Passos Coelho, marcou um contraste com o candidato Presidente, tendo proferido um discurso politicamente responsável, muito equilibrado e inteligente. (...)

por MÁRIO SOARES,
DN, 25.1.2011

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