sexta-feira, 21 de maio de 2010

"É o optimismo"

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Bento XVI em Portugal: “A história com olhos cristãos”

«Na história, o mal não terá a última palavra, apesar das dificuldades e da dor, injustiça, inclusive da morte. Sobrevoando o Mediterrâneo para Portugal, no encontro habitual com os jornalistas, o Papa deu a chave de leitura de sua nova viagem internacional dirigida a Fátima, o santuário mariano que se converteu em um dos lugares simbólicos mais fortes do catolicismo contemporâneo: é o optimismo, uma chave de leitura muito própria dele desde sempre, contrariamente do preconceito tenaz que há décadas acompanha a representação mediática de Joseph Ratzinger.

«Bento XVI vê a história com olhos cristãos. Com um olhar positivo e sereno que não ignora os dramas e as tragédias da história, os abismos do mal que o século XX abriu de par em par, o limite e a culpa original do homem, o pecado dos próprios cristãos que mostram a necessidade contínua de renovação da Igreja (Ecclesia semper reformanda). Seu optimismo é, portanto, realista porque sabe que o mal ataca sempre, mas sabe também que as forças do bem estão presentes e o Senhor é mais forte que o mal. Assim, ele mostra a mensagem de Fátima, da qual o próprio cardeal Ratzinger, por encargo de João Paulo II, fez uma leitura profundamente enraizada na tradição cristã.

«O mesmo olhar optimista leva o Papa a ler a crise, que agora parece se concentrar na Europa, como um exemplo claríssimo da necessidade de reabrir o pragmatismo da economia às razões da ética, segundo uma linha que recorre toda a encíclica Caritas in veritate e que suscitou interesse e consenso muito além dos ambientes católicos. E a última confirmação deste importante juízo compartilhado veio precisamente das palavras do presidente português, às quais Bento XVI respondeu lembrando que sua visita ao país aconteceria no centenário da proclamação da República e da distinção entre Igreja e Estado, ocasião de "um novo espaço de liberdade" para os católicos.


«E também esteve marcada por optimismo a consideração do laicismo por parte do Papa. Um fenómeno antigo que agora foi radicalizado. Contudo - afirmou significantemente Bento XVI -, constitui ao mesmo tempo um desafio e uma possibilidade: de facto, ainda que com frequência tenha prevalecido a lógica do confronto, nunca faltaram pessoas que procuraram construir pontes.

«Essas pontes, segundo o Pontífice Romano, devem ser construídas para possível compreensão e entendimento entre o racionalismo europeu actual que tende a excluir o transcedente. Só assim as culturas ocidentais, pragmáticas e materialistas, poderão entrar em diálogo com outras culturas. Para o olhar optimista de Bento XVI, de fato, a presença do laicismo em si é normal, enquanto, em contrapartida, são anormais e negativas a contraposição e a exclusão de Deus do horizonte do homem.»

Por Giovanni Maria Vian, director do “L’Osservatore Romano”,
sobre a mensagem que Bento XVI deixou durante sua peregrinação apostólica a Portugal.
CIDADE DO VATICANO, quinta-feira, 20 de Maio de 2010 (ZENIT.org)

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