sexta-feira, 30 de abril de 2010

"Crise financeira reflete falência do Homo oeconomicus"

ROMA, terça-feira, 27 de abril de 2010 (ZENIT.org). – Na base da actual crise económica global está uma crise ética e cultural, mas também uma falência de uma antropologia que, para ser superada, exige um investimento na pessoa, no seu carácter relacional e no empenho educacional.

Estas são algumas propostas apresentadas durante o 60º Congresso da Federação Universitária Católica Italiana (FUCI), realizado em Piacenza, e que teve como tema “Uma economia para o homem. Quais são os desafios para o futuro?”. O evento foi concluído no domingo, 25 de abril, com uma celebração Eucarística presidida pelo bispo de Piacenza-Bobbio, Dom Gianni Ambrosio.

Durante os quatro dias de encontros, que contou com a participação de mais 200 estudantes de toda a Itália, tomaram a palavra diversas personalidades de renome, entre elas o ministro da economia da Itália, Tommaso Padoa Schioppa, e o presidente do IOR, Ettore Gotti Tedeschi.

Após a sessão de abertura, na qual foram abordadas as causas e as perspectivas da atual crise econômica, a realização das reuniões dos grupos de trabalho para o aprofundamento sobre o tema “estilos de vida” e da mesa-redonda, a assembleia federal aprovou o texto final de sua declaração conjunta.

No documento, afirma-se que atrás da bolha financeira “se desenvolveu crescimento excessivamente lastreado em débitos”, desvinculado da economia real e de qualquer forma de controle ético.

“A responsabilidade dos actores económicos” – continua a declaração – “deixou espaço para a especulação e o enriquecimento fraudulento, com frequência mascarados por uma eficiência de mercado”.

“Por trás da crise econômica, portanto, pode ser identificados sinais de uma crise ética e cultural, que diz respeito às dinâmicas mais profundas de nossa sociedade”.

“Aquilo que deveria ser um instrumento – a propriedade, a riqueza, as finanças – tornou-se princípio e fim de todos os esforços, medida única de todas as acções”, continua o documento.

“Eis o Homo oeconomicus, que tem fome apenas de dinheiro e visa tão somente à maximização do próprio ganho pessoal”.

“Mas, por trás de tal ânsia de acumular e possuir não estaria talvez um vazio de relações humanas autênticas, a ausência de uma partilha alegre, o medo de um futuro incerto”, perguntam-se os jovens da FUCI.

“Faz-se necessário, portanto, repensar a economia, sua regras, seu limites, seus instrumentos. Recomeçar partindo da pessoa deve ser a palavra de ordem”, afirmam.

“Mas a pessoa é, primeiramente, relacional: recomeçar a partir disso significa, portanto, superar o isolamento individualista e abrir a possibilidade de um encontro autêntico com os demais, com a criação e com a Transcendência”.

As empresas, assim, devem ser estimuladas “a ampliar sua visão e a passar de uma ‘responsabilidade limitada’ a uma ‘responsabilidade social’, em cujo centro estejam também os interesses e necessidades dos trabalhadores”.

“Uma economia de mercado imbuída dos conceitos de dom e de gratuidade pode se transformar em realidade no momento certo”, observa o documento. “Uma economia de mercado pluralística e regulada, a serviço do homem e de sua dignidade, é portanto indispensável para que a crise actual possa ser superada”.

Além disso, deve ainda “ser superada a dicotomia entre indivíduo e Estado: é preciso apontar para os organismos mediadores da sociedade civil, para tudo aquilo que se encontra entre o isolamento individualista e o conformismo de massa, e que possa agregar as pessoas em vista do bem comum”.

“As finanças éticas, o consumo crítico, as energias de baixo impacto ambiental, o software livre representam alguns dos cenários de um possível empenho pessoal e comunitário”, sugerem.

Para tal, é necessário “dar novo impulso à missão educacional, uma vez que a formação de uma consciência crítica o pressuposto fundamental de qualquer opção ética”.

Mas, principalmente, “é preciso que a dimensão ética de cada cidadão e a justiça das instituições sejam complementares”, pelo que os jovens pedem “às instituições políticas em todos os níveis – local, nacional e supra-nacional – que crie os espaços necessários para que estas escolhas possam ser feitas efectivamente”.

“Se cada homem está pronto para rever suas próprias escolhas à luz da fraternidade e do bem comum, poderemos construir um futuro mais humano”, concluem.

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