sexta-feira, 12 de março de 2010

"Paulo Rangel, Aguiar-Branco ou Passos Coelho?"

(...)

Paulo Rangel, Aguiar-Branco ou Passos Coelho?
Estou a sair do PSD. O PSD não gostou que eu saísse. O PSD não gostou que eu, no exercício da minha liberdade, tivesse apoiado Maria José Nogueira Pinto e depois António Costa.


E depois José Sócrates...
E depois José Sócrates, e amanhã se calhar Jerónimo de Sousa ou Francisco Louçã. Sou livre, sempre fui mas agora ainda sou mais leve. Qualquer coisa que dissesse sobre o PSD, ou era completamente hipócrita, eu dizia o que não queria.


Porque é que não diz Marcelo Rebelo de Sousa?
Infelizmente ainda tentei, de fora, não teve nada a ver com o partido, que o Marcelo Rebelo de Sousa aceitasse. Achava que o Marcelo Rebelo de Sousa era a pessoa mais adequada para ser o líder do PSD. Mas já o digo há muitos anos. E digo-lhe mais: fiz um esforço pessoal, tentei pessoalmente convencê-lo. Há meses, mas vi logo que não havia hipótese e eu percebo-o tão bem.


Porque é que o percebe?
Talvez pelas razões que me levaram a sair do PSD. Eu não saí do PSD por causa do Marques Mendes. Eu acho que o PSD não tem solução.


Não serve para nada, conforme já disse.
Não, pior do que isso, o PSD é prejudicial para a democracia portuguesa.


Porquê?
O PSD devia-se assumir como partido de direita, com uma lógica completamente distinta, com coragem. Eu disse que o PSD devia tentar ganhar as eleições de 2013 e não as de 2009.


Mas o que é que aconteceu aquele que foi o seu partido até 2006?
Acho que Cavaco Silva destruiu a matriz do PSD e eu escrevi isso na altura, vezes sem conta. Não tem nada a ver com o eu achar que ele foi um excelente primeiro-ministro. O PSD era um partido dos self-made men, da província, das classes médias em processo de ascensão social a partir da sociedade civil, era um partido daqueles que ganham a vida sem terem insegurança, era um partido da liberdade. E com o Cavaco Silva transformou-se num partido que apanha tudo e sobretudo num partido de funcionários públicos, de reformados, de pessoas que, com toda a legitimidade, querem ter segurança. Isso mudou a matriz do partido. E por isso, o que é que aconteceu, continuou a ser um partido da matriz antiga das autarquias e passou a ser um partido da matriz moderna, não é moderna, da nova matriz a nível nacional.



Um partido incoerente?É um partido incoerente, ilógico. Os autarcas são verdadeiros líderes de direita, de um modo geral e o país é absurdo. O PS pensa à direita, o PS hoje em dia é um partido de centro e quando quer ser um partido de esquerda perde. A Europa voltou à direita, agora nesta crise. O PS percebeu isso e o PSD quer ocupar o espaço do PS. (...)"

Excertos da entrevista a José Miguel Júdice,
por Sílvia de Oliveira, Publicado no "i" a 12 de Março de 2010

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