quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

“Em temas como o aborto, todos nós temos algo a dizer”

Entrevista com o cardeal de Barcelona, Lluís Martínez Sistach

BARCELONA, segunda-feira, 25 de janeiro de 2010 (ZENIT.org).- O cardeal arcebispo de Barcelona, Lluís Martínez Sistach, indicou nesta entrevista concedida à Zenit que a nova lei do aborto na Espanha não reduzirá o número de abortos, mas o aumentará, e propôs melhorar as ajudas às mães que ficam grávidas. “A vida humana da criança precisa tudo da mãe e da sociedade.”

O cardeal afirmou, além disso, que, quando são retirados os símbolos religiosos dos colégios e instituições, como a cruz, “perdemos nossa identidade e, sem identidade, não sabemos quem somos, de onde viemos e aonde vamos”.

-Como o senhor interpreta as posições contrárias à presença da cruz nas escolas?

Cardeal Martínez Sistach: É não entender devidamente o significado da cruz. Ela tem um significado religioso, porque Jesus morreu na cruz e, por isso, a cruz se converteu em um símbolo de acolhimento, de fraternidade e de amor aos amigos e inimigos. Jesus, sendo crucificado, perdoou os que o pregaram na cruz. Este símbolo religioso não deveria ofender. Mas, ao mesmo tempo, tem um significado cultural, já que está nas raízes cristãs da Europa e, concretamente, do nosso país. Se eliminamos das escolas e instituições os símbolos religiosos como a cruz, estamos perdendo nossa identidade e, sem identidade, em um mundo globalizado, não sabemos quem somos, de onde viemos e aonde vamos.

-Se esta lei for aplicada nas instituições catalãs, como o senhor espera que a sociedade civil reaja?

Cardeal Martínez Sistach: Na Catalunha, temos fama de agir com juízo, ainda que às vezes sejamos impulsivos. Temos de pensar em que país queremos construir, também em questões como esta. Temos de pensar que estamos em um Estado leigo, mas não laicista. Porque, ainda que o Estado seja leigo, a sociedade está formada por pessoas, grupos e instituições, muitos dos quais são religiosos.

-A reforma da lei do aborto é um dos temas que mais preocupam a Igreja. Que consequências o senhor prevê que isso terá para o futuro que estamos criando?

Cardeal Martínez Sistach: O aborto sempre é um mal, porque impede que um ser humano concebido e não-nascido possa nascer. Aqui entra a questão do respeito e valorização da vida humana daquele que é pequeno e inocente, que não pode falar e depende da mãe e da sociedade.

-O senhor acha que um debate social poderia acabar com esta lei do aborto?

Cardeal Martínez Sistach: Em temas de tanta transcendência como este, é importante que haja um amplo debate, para que se possam ouvir as razões da sociedade, das instituições sociais, culturais e religiosas. Todos nós temos algo a dizer.

-A nova lei do aborto reduzirá o número anual de abortos?

Cardeal Martínez Sistach: Esta lei ampliou a já existente e considera o aborto como um direito de livre realização durante as primeiras 14 semanas. Não reduzirá o número de abortos, e sim os ampliará. Seria preciso oferecer às mulheres grávidas toda a ajuda necessária para que não se vejam obrigadas a abortar.

-Em Extremadura está sendo realizada uma campanha de educação sexual – do Instituto da Mulher e do Conselho de Juventude – sob o nome “O prazer está em suas mãos”. O senhor acha que o governo tem autoridade para educar os jovens neste tema?

Cardeal Martínez Sistach: A responsabilidade primária nesta matéria é competência dos pais. São eles que têm o direito inalienável de garantir aos seus filhos uma autêntica e sólida formação do afeto e da sexualidade dos adolescentes e jovens.

-O ano que terminamos foi fortemente marcado pela crise econômica. Como a arquidiocese de Barcelona vive este fato?

Cardeal Martínez Sistach: A crise econômica tem graves consequências para muitas pessoas e famílias. Cerca de 4 milhões de desempregados não recebem subsídios. Há muitas famílias nas quais nenhum dos membros tem trabalho. As consequências graves desta crise fazem dela uma questão de Estado, de país, e isso exige que os partidos políticos, os sindicatos e as instituições trabalhem conjuntamente para encontrar a solução para a crise econômica.

Por Carmen de la Llave, zenit.org

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