sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Assistência sanitária, políticos e consciência católica

Aparece um novo acontecimento preocupante na política americana
Por Carl Anderson

NEW HAVEN, Connecticut, quinta-feira, 10 de dezembro de 2009 (ZENIT.org).- Durante décadas, os americanos foram submetidos aos argumentos de alguns políticos católicos que argumentavam que, ainda que se “opusessem pessoalmente” a políticas injustas como o aborto, não estavam dispostos a “impor” este ponto de vista ao resto do país.

O argumento era falso; partia da base de que, de fato, de alguma maneira, uma consciência “católica” deveria ser deixada de lado no espaço público.

Agora, as próprias pessoas que argumentaram que não podiam levar sua consciência privada ao espaço público leigo, estão preparadas para usar a lei para impor um particular ponto de vista aos seus companheiros católicos.

Mediante o trabalho e o voto para incluir a cobertura de abortos na legislação da assistência sanitária, vários políticos católicos se encontram no precipício de ser os votos decisivos para impor um ponto de vista específico aos seus companheiros católicos, obrigando-os a financiar abortos através dos seus impostos.

Enquanto professam que não podem impor sua consciência a ninguém, esses políticos parecem ter poucas dúvidas na hora de impor um ponto de vista político – ao qual eles alegavam opor-se inicialmente – às consciências dos seus companheiros católicos.

Longe de Kennedy

Os políticos católicos dispostos a renunciar às suas próprias consciências e a impor aos demais um ponto de vista diretamente anticatólico, vêm de um longo caminho, desde o legado do estadista católico de mais alto perfil da história americana, o presidente John F. Kennedy, quem, ao analisar sua função como católico e candidato à presidência, disse: “Se chegar o momento – e não vejo problema em que chegue o mais remotamente possível – em que meu cargo me exigir violar minha consciência ou violar o interesse nacional, então eu renunciaria ao meu cargo, e espero que qualquer servidor público faça o mesmo”.

E ainda que alguns pudessem considerar que os políticos católicos discreparam das recomendações sobre políticas públicas dos seus bispos em várias áreas, a chave é esta: muitas questões são prudenciais e estão abertas a uma discrepância razoável; mas o direito inalienável à vida no contexto do aborto não é, é fundamental e não pode se ver comprometido.

Como o cardeal Joseph Ratzinger – agora Bento XVI – destacou sobre os políticos católicos em 2004, “nem todas as questões morais têm o mesmo peso moral que o aborto”.

E acrescentou: “Ainda que a Igreja exorte as autoridades civis a buscarem a paz, não a guerra, e a ter discrição e misericórdia ao impor penas aos criminosos, poderia ser admissível usar as armas para repelir um agressor ou recorrer à pena capital. Pode haver uma legítima diversidade de opiniões entre os católicos com relação à guerra e a aplicação da pena de morte, mas não, ao contrário, com relação ao aborto”.
Lei injusta

Os políticos católicos devem agora considerar o efeito da legislação nacional que ordena a colaboração católica no aborto. Em sua famosa encíclica pró-vida Evangelium vitae, o Papa João Paulo II disse: “A introdução de legislações injustas põe frequentemente os homens moralmente retos frente a difíceis problemas de consciência em matéria de colaboração, por causa da imperiosa afirmação do próprio direito de não ser obrigado a participar em ações moralmente más”.

Além disso, disse: “Os cristãos, como todos os homens de boa vontade, são chamados, sob grave dever de consciência, a não prestar a sua colaboração formal em ações que, apesar de admitidas pela legislação civil, estão em contraste com a lei de Deus. Na verdade, do ponto de vista moral, nunca é lícito cooperar formalmente no mal”.

“Tal cooperação nunca pode ser justificada invocando o respeito da liberdade alheia, nem apoiando-se no fato de que a lei civil a prevê e requer: com efeito, nos atos cumpridos pessoalmente por cada um, existe uma responsabilidade moral, à qual ninguém poderá jamais subtrair-se e sobre a qual cada um será julgado pelo próprio Deus.”

É uma dupla ironia que uma lei que obrigaria milhões de pessoas a violarem suas consciências mediante o pagamento dos seus impostos, e complicaria muitos médicos, enfermeiras, hospitais e organizações beneficentes católicas, esteja sendo considerada precisamente em um momento no qual a maioria dos americanos – em número sempre crescente – está se tornando cada vez mais pró-vida.

Os funcionários de Washington podem evitar que esta tragédia moral ocorra. Não deveriam hesitar em fazê-lo.

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Carl Anderson é o cavaleiro supremo dos Cavaleiros de Colombo e autor de New York Times.

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