quarta-feira, 6 de maio de 2009

Erros de morte!

Escrevo após a leitura atenta do Diário de Noticias onde vem na primeira página uma sondagem da Universidade Católica sobre as eleições Legislativas 2009. Arrepiantes os dados que ali vêm inscritos, devo dizer.

Nunca escondi a minha orientação politica fazendo um percurso de frontalidade e transparência, assumindo sempre as posições que entendi serem as mais correctas e aquelas que se ajustavam ás ideias que tenho para Braga e para o país. Devo por isso dizer que como homem da direita liberal que insistem sufocar e calar, como que se de uma qualquer “gripe suína” se tratasse, me sinto profundamente triste e preocupado com aquilo que naquela sondagem vem espelhado. Dois pontos fundamentais a reter: a astronómica subida do Bloco de Esquerda e o quase desaparecimento do CDS/PP.

Isto revela duas coisas evidentes numa primeira leitura, a subida natural de quem tem um discurso mais radical e apetecível em tempos de crise e de dificuldades económico-sociais e a descida para o fundo do poço de quem não soube crescer, evoluir no tempo e se centrou numa só estratégia, altamente personificada que, como não poderia deixar de ser mais cedo ou mais tarde haveria de ter uma factura para pagar.

Quanto ao primeiro, posso apenas dizer que a sua subida será natural dadas as circunstâncias,  não deixando contudo de ser perigosa pois não podemos acreditar com seriedade que o Bloco de Esquerda seja um partido com responsabilidade para governar ou participar na governação. Uma coisa são as “bocas” bonitas de ouvir, outra coisa é a responsabilidade de governar e tomar decisões com implicações práticas na vida dos portugueses. Quanto a isto não tenho qualquer dúvida que o Bloco não estará á altura.

No que ao CDS/PP diz respeito, não posso deixar de dizer aqui que isto é o fruto daquilo que foi feito nos últimos anos, nem mais, nem menos. Paulo Portas foi a lufada de ar fresco que em 1999 deu um novo horizonte ao partido. Terá sido sem a menor sombra de dúvida um dos mais carismáticos da sua história. Atingiu o arco da governabilidade e aí cometeu o primeiro erro fatal, a saber, não apostou em novas figuras, não lançou nomes de peso e não mostrou ao país que havia vida para alem dele. O discurso da democracia cristã teve o seu enquadramento numa determinada época em que a conjuntura impunha que fosse por aí. Mas o tempo não para e as estratégias não podem parar no tempo. O CDS/PP é, de raiz, um partido com uma vertente liberal forte, onde democratas cristão e liberais deveriam coabitar de forma pacífica pois essa foi a sua razão de ser desde o início. Aqui Portas comete o segundo erro de morte, não percebe que o partido vai para alem da sua imagem, que é muito mais eclético do que aquilo que ele próprio queria fazer transparecer. Não consegue dar a volta por cima e sai como o grande mártir da jogada de Sampaio.

É neste ponto que Portas se poderia ter tornado no mais carismático de sempre, se soubesse deixar o partido tomar o seu rumo e fazer a transição que se impunha. Foi aqui a oportunidade de renascer, de afirmar ideologias e de criar as condições para que essa característica tão única fizesse do CDS aquilo que ele de facto sempre foi, um partido de matriz democrata cristã, mas com uma forte costela liberal que lhe daria a abertura para a sociedade do século XXI.

Mas o “Paulinho das feiras” não soube ser aquilo que o partido mais precisava e que não tinha, um ex-presidente interventivo mas equidistante. Acredito que a verdadeira razão para o abrupto e vergonhoso regresso está num simples facto, da mais elementar fraqueza humana...o apego ao poder. Portas não soube ser grande. Daí para a frente foi como no tempo da ditadura, eleições arranjadas, militantes sem poderem exercer os seus direitos até que o partido voltou a ser o do táxi, não pelo número de deputados eleitos, tão pouco pelo número de militantes presentes para a estatística, mas sim pelo vazio ideológico e a falta de massa critica que se pode observar hoje em dia.

Aqueles que ousaram discordar de sua Excia. foram dissecados e os anónimos surgiram, como se costuma dizer, do nada. Hoje o CDS é o Partido do Paulo Portas e de uma série de pessoas que não capazes de dizer uma única coisa sobre os locais onde é suposto intervir. Lembro o CDS de Braga...sim, lembro porque se não o fizer ninguém terá memoria de quem não se conhece um único projecto, uma única ideia nem tão pouco o papel que terá nas próximas autárquicas. Sabemos que estarão “á coca” dos lugares até porque, politica em Braga é pagar as rendas da sede. Perguntem-lhes por onde  andaram no passado, o que fizeram, o que disseram e já agora, arrisquem, o que pensam fazer se chegarem ao poder. Acreditem, um enorme silêncio é o que ouvirão.

Tenho pena e sei, melhor do que eles, que Ricardo Rio é o melhor que Braga pode ter em 2009. Espero que, pelo menos, tentem fazer algo de bom pela sua cidade e não atrapalhem.

No que à Europa e ao País diz respeito, afirmo que aqui se joga a sobrevivência do CDS/PP. Tal como já tive ocasião de dizer e escrever no passado, o mínimo razoável para justificar a existência de um partido são 5% dos votos. Tal como noutros países democraticamente mais evoluídos, em Portugal este deveria ser o mínimo para garantir representação parlamentar.

In Diário do Minho, 06/04/2009

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